30 outubro 2006

Mecenas procuram-se

[Notícia-TAGV]


O Teatro Académico de Gil Vicente acaba de instituir um Programa de Mecenato Cultural. A legislação referente ao Mecenato Cultural (Decreto-lei nº 74/99, de 16 de Março, e Lei 160/99, de 14 de Setembro) pretende incentivar o patrocínio a actividades de índole artística e cultural. É hoje prática corrente em muitas instituições o estabelecimento de parcerias ao abrigo da referida legislação. A escassez deste tipo de parcerias na história do TAGV reflecte não apenas o alheamento dos agentes económicos da cidade e da região de Coimbra no que diz respeito às artes do espectáculo, mas também a inexistência de um Programa de Mecenato Cultural permanente no TAGV. É com o objectivo de mudar esta situação que a Direcção do Teatro institui o presente Programa, propondo a cerca de 25 empresas e instituições que se associem à programação do TAGV na temporada 2006-2007.

As artes do espectáculo constituem uma das formas mais vivas de relacionamento social, de aprendizagem e de comunicação. Ignorar aquilo que se faz no domínio das artes é aumentar voluntariamente o isolamento e comprometer a qualidade da formação e da educação dos indivíduos. A educação artística da sociedade constitui um dos indicadores do seu nível de desenvolvimento. É esse um dos pressupostos da legislação de Mecenato Cultural ao incentivar, através de benefícios fiscais, o financiamento de instituições de índole artística e cultural. A associação de uma entidade privada à programação do TAGV permitir-lhe-á contribuir para a vida cultural e artística da cidade. Esta contribuição reflecte-se directamente na produção e na recepção artística, tornando possível a mais pessoas tomarem parte nesses actos, seja como criadores, seja como espectadores. Ao apoiar o TAGV, o patrocinador revela a sua atenção à dimensão artística da vida cívica da cidade e mostra a sua responsabilidade social, associando-se a um serviço público. Contribui deste modo para a afirmação do Teatro Académico de Gil Vicente como embaixador cultural da região no país e no estrangeiro. Ao mesmo tempo, usufrui da exposição e da publicidade decorrente dos meios de divulgação da programação do TAGV, reforçando a sua identidade pública enquanto patrocinador.
MP

25 outubro 2006

O trompetista que andava de patins (24 Outubro 2006)

[Arquivo-TAGV]




Guillaume Dutrieux, Companhia O Último Momento, «Peut-Être», TAGV, ensaios: fotos de MP (24-10-2006)

Talvez seja possível libertarmo-nos da gravidade. E da força da gravidade. Se, como ao acrobata, nos for permitido dançar no mastro. E voar sem chegar a bater no chão. Cair em direcção ao centro do corpo, saltando por cima da queda. Enrolarmo-nos em volta do mastro e serpentear como a trepadeira. Hastearmo-nos no topo e desfraldar as pernas à luz que as faz ondular. Talvez seja possível estender os braços e mergulhar, como Alice, no buraco do espelho. Descobrir aí o corpo dividido e multiplicado. Flexível e hirto ao mesmo tempo. Dançar com o eu nesse salto mortal. E perceber a imagem do mundo no lado de lá da imagem. Ver em negativo os espectros dos corpos e dos gestos. A consciência seria, nesse momento, a força da gravidade da auto-percepção corporal. Dar por si é reconhecer o horizonte do chão. Neste desafio à gravidade, a música é o duplo desse movimento paradoxal. Também ela coreografa os sons em torno do eixo aéreo do acrobata. Os instrumentos perseguem as ondas de som que ondeiam no ar. O próprio contrabaixo, pesado acrobata de rodas, se entrega a essa dança improvável. A boca do trompete e o olho do vídeo em mútua devoração. Talvez seja possível libertarmo-nos da gravidade. E cair sem tocar o chão. Como um anjo que a luz atravessasse. Talvez.
MP

21 outubro 2006

Moldar a madeira

[Máquina-TAGV]


Laurindo Fonseca, carpinteiro, TAGV: fotos de Maria Miguel Ferrão (14-09-2006)

Para que o conhecimento do todo seja, de algum modo, possível, não só nenhum trabalho pode permanecer na sombra, como nenhum trabalho deve ser subestimado. A destreza e a aparente facilidade com que muitas tarefas são executadas não nos permitem, por vezes, perceber o saber técnico contido nos gestos com que são realizadas. O saber contido no modo como a prancha se entrega aos dentes da serra, ou como as aparas se soltam por acção da plaina, ou como encaixes e entalhes se ajustam com perfeição, ou como a chanfradura recebe o topo de outra prancha, ou como as cavilhas prendem a travessa, ou como a lixa redescobre os veios da madeira, ou como o verniz os reveste e transfigura, ou como a tinta se deposita em finas películas, ou como a dobradiça sustém o movimento aéreo da porta. Na montagem das exposições, em montagens de palco, em reparações diversas, na sala e nos camarins, em portas e janelas, em mesas e cadeiras, em molduras e cenários, em plintos e painéis, seria difícil enumerar todos os lugares e todas as tarefas, e sobretudo calcular a parte que esse trabalho representa na máquina do Teatro. Seguir os gestos das mãos talvez permita imaginar a parte desse trabalho que escapa à observação. Aquele momento em que a madeira se molda.
MP

18 outubro 2006

Instantâneos TAGV (2)

[Máquina-TAGV]




Indicadores luminosos de portas PAR e ÍMPAR, Foyer de Entrada do TAGV: PDS (11.10.2006)

Sempre que há espectáculo, à entrada do Teatro, os Assistentes de Sala informam os espectadores de acordo com o bilhete que adquiriram: “Pela porta PAR à sua esquerda, por favor” ou “Pela porta ÍMPAR à sua direita, por favor”. Por vezes, é vê-los confusos, olhando para o ingresso a tentar compreender a razão de tal indicação. Ou simplesmente a tentarem decidir para onde é a esquerda. Ou a direita.
PDS

Kirikou et les bêtes sauvages (18 Outubro 2006)

[Arquivo-TAGV]



Kirikou et les bêtes sauvages, 7ª Festa do Cinema Francês, TAGV: fotos de Alain Didier (18-10-2006)

17 outubro 2006

Qui m'aime me suive

[Crítica-TAGV]

Qui m'aime me suive (2005), 7ª Festa do Cinema Francês, TAGV, 16-10-2006

O filme de Benoît Cohen, abertura da 7ª Festa do Cinema Francês em Coimbra, encena o dilema da escolha, num registo que mistura o cómico e o dramático. O seu tom ligeiro, de filme essencialmente musical, não escamoteia inteiramente o problema da escolha dos papéis que determinam o destino e a acção do sujeito. O desejo de mudar de vida não encena apenas o desejo de fuga e regressão da personagem, mera troca imaginária entre a carreira de médico, reprodução de um desejo familiar, e a carreira de cantor rock, desejo reprimido da juventude. Esta troca coloca também a questão do controle do sujeito sobre as suas próprias acções: que parte do seu destino social não é um papel fora do seu domínio? É possível mudar de vida? Por outro lado, a autenticidade reencontrada no impulso para voltar a cantar e a tocar esconde mal a lógica que, também na profissão musical, incorpora a música na reprodução social que determina uma carreira de sucesso. A caricatura do produtor musical e da companhia discográfica aponta nesse sentido, como se o sucesso fosse, em última análise, a medida universal. O gesto de rebeldia surge legitimado afinal pela mesma ideologia que produz a carreira como modo de ser no mundo. Por tudo isto, a morte de Max, uma solução narrativa aparentemente injustificada, constitui uma falsa resolução de um dilema que não chegou a ficar inteiramente articulado e, ao mesmo tempo, uma tentativa de extensão desse dilema para o domínio existencial da precariedade da vida e das relações. O amor, por seu turno, duplica o dilema da escolha de um modo de vida: a escolha entre Anna e China/Valérie, como eco da escolha entre a convenção e o desejo, também não consegue escapar às convenções para articular esse conflito. De certo modo, as convenções do género fílmico escolhido tornam impossível articular o dilema a não ser como mero divertimento cómico. Mas o que lhe falta em força narrativa está ainda assim presente nas canções e, sobretudo, no modo de filmar Eléonore Pourriat. Na forma da obra, o puro desejo de filmar, perceptível nesses momentos, subordina-se às regras narrativas do género. Mais do que na própria estória, é no conflito entre imagem/som e convenção narrativa que o dilema de mudar de vida ocorre e fica por resolver.
MP

10 outubro 2006

O que é o/a Amigo/a TAGV?

[Notícia-TAGV]

Melânia Ramos e Antónia Mimoso, TAGV: foto de Maria Miguel Ferrão (28-07-2006)

Amigo, (do latim, amicu) adj. Que aprecia, que tem muita estima por: amigo da verdade, amigo das letras, amigo de doces. Simpático: voz amiga. Propício, favorável: vento amigo, paisagem amiga. S. m. Pessoa à qual se está ligado por uma afeição recíproca: um amigo fiel. Amigo de infância, ao qual se está ligado desde a infância. Amigo da casa, o que vive na intimidade de uma família. Amigo do coração, aquele que se prefere. Falso amigo, o que só tem aparência de amizade. Amigo dedicado, o que é capaz de sacrifícios por outrem.

Actualmente, uma das extensões semânticas da palavra amigo é aquela que a liga a instituições de índole artística e cultural. Muitos teatros, museus, bibliotecas, galerias e centros de exposições mantêm um programa «Amigo», com o objectivo de fomentar uma participação assídua nas suas actividades. É também com esse objectivo que introduzimos a partir de agora no nosso vocabulário a expressão «Amigo/a TAGV». Para esta temporada, são definidas duas categorias de Amigo/a e respectivas contrapartidas: A e B, respectivamente, por 150 e 100 euros de subscrição anual. No primeiro caso, com direito da 10 bilhetes e ainda a 50% de desconto nas restantes aquisições (com excepção do cinema) em espectáculos organizados pelo TAGV. No segundo caso, com direito da 6 bilhetes e ainda a 50% de desconto nas restantes aquisições (com excepção do cinema) em espectáculos organizados pelo TAGV.

As expectativas do público em relação ao papel do TAGV revelam quer a forte identidade do Teatro, quer um apreço generalizado pela instituição. A possibilidade de o TAGV sobreviver à massificação das artes do espectáculo e à indústria do entretenimento depende do apoio directo do público, e do público universitário em particular. Só assim será possível ao TAGV salvaguardar os seus meios de produção e a sua liberdade de programar, combinando da melhor forma a sua função estritamente universitária com uma função pública em sentido lato. Na medida em que a educação artística da sociedade constitui um índice de desenvolvimento, não é demais sublinhar a importância de protegermos colectivamente uma instituição como o Teatro Académico de Gil Vicente. Defender o TAGV significa, antes de mais, conhecer e tomar parte nas suas actividades.
MP

05 outubro 2006

Ver a luz

[Máquina-TAGV]




Melânia Ramos, luminotécnica, TAGV: fotos de Maria Miguel Ferrão (14-09-2006 e 28-07-2006)

Às vezes, a luz pode parecer invisível. É como se, depois de delimitar o espaço e recortar os objectos, oferecendo-os ao olhar, ela se retirasse discretamente. Como se deixasse de estar presente. Esquecemo-nos de que continua ali, suspensa, a fazer o trajecto entre o projector, o objecto e o olhar. Só quando sobe ou desce de intensidade, quando assoma filtrada por outra cor, quando surge a partir de outro ângulo, quando se sincroniza com o som, quando a sala escurece, ela se torna de novo visível. Sendo o meio que revela a materialidade cénica, é como se a sua materialidade se dissolvesse intermitentemente na materialidade dos demais objectos. Como se os objectos a absorvessem. Quem trabalha a luz sabe, todavia, que os efeitos ópticos que esculpem o espaço dependem de um trabalho meticuloso na definição dos pontos de luz, dos ângulos de incidência e de abertura, do jogo de filtros e de máscaras, das combinações de cores, da temporização de efeitos. A programação é precedida de um trabalho de montagem dos projectores nas varas de luz. Mais até do que no próprio espectáculo, é nesse momento que a luz se torna visível. É nesse momento que é possível sentir-lhe o peso.
MP

01 outubro 2006

Outubro 2006

[Arquivo-TAGV]


Em Outubro começam a discernir-se os padrões de programação que vão estruturar a temporada 2006-2007. Desde logo pela presença das quatro disciplinas artísticas. O Dia Mundial da Música é assinalado através de um concerto dedicado aos compositores brasileiros Radamés Gnattali (1906-1988) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959). O Festival de Música de Coimbra traz a Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob a direcção de Michael Zilm, e a Orquestra Sinfónica Juvenil, dirigida por Christopher Bochmann. Duas semanas são dedicadas ao cinema europeu do último ano, com a Semana do Cinema Espanhol e com a 7ª Festa do Cinema Francês. Esta última reata a colaboração entre o TAGV e a Alliance Française. A dança chega através da Companhia Instável, com três coreografias de Rui Horta. Um ano depois, o Novo Circo regressa ao TAGV com a Companhia O Último Momento. No teatro, prosseguem as Estreias-TAGV, com a nova produção da Encerrado para Obras, Physicomic, uma co-produção com o Museu de Física da Universidade de Coimbra, dirigida também às escolas. A programação educativa integra ainda cinema de animação e várias oficinas de expressão dramática. Filipa Vicente inicia o ciclo anual de Exposições-TAGV com «Arrumações». Prossegue o ciclo «escrileituras», com a presença da escritora Teolinda Gersão.
MP