30 setembro 2007

A Escola da Noite no TAGV (28 Set 2007)

[Arquivo-TAGV]


«Tchékhov e a Arte Menor», A Escola da Noite, encenação de António Augusto Barros, TAGV, 28 Setembro 2007. Com António Jorge, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Pessoa Júnior, Sílvia Brito e Sofia Lobo. Fotos de José Balsinha.

«Tchékhov e a Arte Menor» é um testemunho eloquente do trabalho de actualização de clássicos modernos levado a cabo pel’ A Escola da Noite, que em 2006 dedicou projecto semelhante a Samuel Beckett, com «Play». A pequena escala destas cinco (originalmente seis) peças em um acto mostra-nos a espantosa capacidade de dramatização de Anton Tchékhov: a capacidade de explicitar, em poucas falas e gestos, o conflito que estrutura mesmo as relações mais triviais e os encontros mais fortuitos entre sexos e entre classes. É perante este absurdo tragicómico das motivações humanas que a encenação de António Augusto Barros nos coloca, sublinhando nas personagens os traços da caricatura que as define. A negação dos desejos contida na ordem social que produz os seus gestos e falas toma a forma ridícula da obsessão compulsiva, que esta encenação nos mostra também enquanto pura materialidade teatral.
MP

29 setembro 2007

Tchékhov e a Arte Menor (28 Set 2007)

[Arquivo-TAGV]





«Tchékhov e a Arte Menor», A Escola da Noite, encenação de António Augusto Barros, TAGV, 28 Setembro 2007. Com António Jorge, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Pessoa Júnior, Sílvia Brito e Sofia Lobo. Fotos de Celestino Gomes.

27 setembro 2007

Dirigir

[Máquina-TAGV]


O que aquela peça não esperava era que a sua descrição, ao tomar a forma de autodescrição, lhe parecesse mais impossível do que as restantes. Era como se o ver-se por dentro, dentro da engrenagem e dentro da peça que era, tornasse ainda menos clara a imagem da sua morfologia e da função. A observação das outras formas de trabalho que compunham o todo do mecanismo revelara-se, em retrospectiva, mais facilmente alcançável. Talvez por lhe ser dada a liberdade de definir a forma da sua própria função, isto é, por poder dar forma à peça que era, e tentar, com isso, dar forma à máquina de que era peça, se tornasse improvável conseguir uma autodescrição que desse conta da sua forma específica de trabalho, quer dizer, da sua forma de ser peça da máquina. Uma autodescrição que a tornasse inteligível não só para outrem, mas para si mesma.


Embora escrito previamente pelo conjunto de práticas necessárias às organizações e pelas leis e regulamentos que atribuem funções e competências, é sempre possível redefinir e reescrever o papel, e, até certo ponto, só até certo ponto, mudá-lo. Mudá-lo no acto de o desempenhar. E chegar quase a compreendê-lo, quase, no acto de o mudar. Conhecer e imaginar - à medida que se conhece o que parece ser - o que pode ser, e dar à forma da sua função algo disso que se imagina. Sabe que a sua função de peça, o seu papel, tal como tenta realizá-lo, é, deve ser, tem de ser, só pode ser, tornar a instituição o mais pública possível. Pareceria certamente exagerada a enumeração de todas as tarefas realizadas com esse objectivo, tão exagerada que é a própria peça quem tem dificuldade em acreditar que tudo isso pudesse ter acontecido. E que resultou dessa espécie de paixão, ou de sofrimento, de quem deu por si, meses a fio, a trabalhar acima dos seus recursos e das suas forças.

Fotos MP (26 Set 2007)

E é precisamente isso que a impede de se autodescrever. Não é apenas por tentar pensar o conjunto da máquina, em todas as suas componentes - na organização, na comunicação, na programação. Ou por perceber que há muito conhecimento a recolher em todos os cantos – na teia e na plateia, no palco e no subpalco, na frente da casa e nos bastidores – e a retransmitir para todos os pontos para que a máquina se veja como tal e funcione como tal. É porque, neste processo, a peça descobre, com surpresa, o entusiasmo com que se entrega ao papel que tenta redefinir. E esse entusiasmo, e a ambição que o acompanha, não lhe permitem ver claro. Fazem-na confundir o que faz com o que deseja fazer, o que é com o que imagina que podia ser. Por isso a sua função lhe escapa quando, como faz agora, tenta descrevê-la autodescrevendo-se.
MP

22 setembro 2007

Gala Internacional de Magia (22 Set 2007)

[Arquivo-TAGV]





Gala Internacional de Magia, com Brando y Silvana, Kevin James, Lennart Green, Mahka Tendo, Malin e Luís de Matos, TAGV, 22 Setembro 2007. Fotos de Celestino Gomes.

21 setembro 2007

Orquestra Gulbenkian no TAGV (20 Set 2007)

[Arquivo-TAGV]





Orquestra Gulbenkian no TAGV, com Joana Carneiro (maestrina) e António Rosado (piano), 20 Setembro 2007. Concerto de abertura do ano académico. Fotos de Celestino Gomes.

19 setembro 2007

O Mito do Herói (17 Set 2007)

[Crítica-TAGV]

Flags of Our Fathers, de Clint Eastwood, «Cinefilia TAGV», 17 Set 2007.


Não há mitos nem heróis no cinema de Clint Eastwood.

Mesmo que não soubermos que filme está prestes a começar, só pelos primeiros acordes, sabemos logo quando é de Clint Eastwood. A fazer lembrar a perturbante falsa calma lynchiana da música da sua maior (atrevo-me) obra-prima ("Million Dollar Baby"), estes primeiros acordes transportam-nos, de imediato, como sempre no Eastwood pós-"Bird", para o imaginário – que não mito – cruel, precisamente porque real, do que nos quer – e consegue – descrever e contar.

E o que nos conta é, de facto, cruelmente real, ora bombardeando-nos com intensas cenas de guerra – onde sobressai, querendo deliberadamente impressionar, a fotografia, bem resgatada à co-produção de Spielberg – ora deixando-nos suspensos, quase sem conseguirmos respirar, mas sem nos deixar cair, em silêncios difíceis ou olhares demasiado inquietantes, como que guiando-nos a seu, e nosso, belo prazer.

Com uma inesperada mas estupenda revelação, Adam Beach ("Ira Hayes") - a levar-nos, de relance, em esgares, para uma ira contida e um desespero a leste de um qualquer paraíso, e para um olhar distante, que não perdido, numa barreira invisível - "Flags of our Fathers" não é, no entanto, sobre personagens, muito menos uma personagem, nem sobre heróis (como poderia dar a entender) - que nos querem, no filme, literalmente, vender - mas sim sobre indivíduos, sobre a cumplicidade que cada um, mão-a-mão, no dia-a-dia da guerra mas sobretudo no das constantes e intermináveis guerras consigo (connosco…) próprio, está disposto a travar com o outro, com o próximo, o verdadeiro herói.

Não há mitos nem heróis no cinema de Clint Eastwood... a não ser ele próprio.

Francisco Soares de Oliveira [19-09-2007]

17 setembro 2007

Organizar o efémero 1

[Arquivo-TAGV]

Yes, posters have short lives. Foto de Joana Monteiro (2007).

Não são precisos muitos dias a observar o acto de programar para se perceber que, como outros actos humanos, é cego em relação àquilo que o determina. A criação de uma lógica que associa as escolhas, isto é, a sua auto-justificação, é a sua forma particular de retórica. Ao produzir o espaço público contemporâneo como espaço cultural e artístico, a programação participa no fluxo geral de produção de capital simbólico e económico que estrutura as relações de poder na sociedade capitalista. Mesmo quando ambiciona mudar a qualidade cívica do espaço público através dos objectos que escolhe e dos modos de comunicação que institui, a programação participa nos processos de produção de identidade dos grupos e das classes e, portanto, na reprodução das relações sociais de poder. Por isso se torna paradoxal resistir ao espectáculo por meio do espectáculo. Admitindo que a arte é uma forma de conhecimento específico, o modo particular de circulação dos objectos cénicos não se distingue, de facto, do fluxo geral das mercadorias que caracteriza a sociedade de consumo. Em prospectiva, a lógica do programa é apenas um estratagema para iludir a proliferação metastásica e caótica da tecnomediação simbólica. Em retrospectiva, a lógica do programa é uma memória que ignora a sua própria arbitrariedade. Precisamente como as colagens e as descolagens e as recolagens: vestígios de uma ordem que lhes escapa.
MP

07 setembro 2007

Recorte-TAGV: o TAGV visto pelos média

[Recorte-TAGV]

Paulo Ribeiro e Leonor Keil. Companhia Paulo Ribeiro, Malgré nous, nous étions là, TAGV, 22 Maio 2007. Foto de mArio henriques.

Um conjunto de notícias seleccionadas, por vezes transcritas para o BLOG TAGV, dão conta do impacto público das actividades realizadas na temporada 2006-2007. Nesta selecção foram destacadas as notícias relativas aos novos projectos e aos novos ciclos do TAGV, e aquelas que dizem respeito a produções próprias. Refira-se que a programação do Teatro continua a ter destaque considerável nos diários As Beiras e Diário de Coimbra, e esporadicamente no Jornal de Notícias e no Público. Por força da reestruturação do jornal Público, o TAGV perdeu, a partir de Março de 2007, a grande cobertura que lhe era dada no suplemento local «Centro». Tem ainda destaques regulares no jornal universitário de Coimbra A Cabra. No que diz respeito à rádio, continua a ter destaque permanente apenas na RUC. Houve este ano destaques mais frequentes na RDP Antena 2 e, ocasionalmente, na RDP Antena 1 e na RDP Antena 3 (como aconteceu com a 5ª edição do Festival de Blues). No que se refere à televisão, beneficiou das reportagens regulares feitas pela ESEC TV (difundidas às quartas-feiras no espaço «Universidades» do Canal 2 da RTP) e, esporadicamente, foi referido no cartaz cultural do noticiário do Canal 2 da RTP. Uma única vez, no dia de abertura do Festival «Coimbra em Blues» de 2007, foi objecto de um apontamento em directo para um programa do Canal 1 da RTP.
MP

O TAGV no diário As Beiras: Lídia Pereira, TAGV aposta no mecenato (28-12-2006) e Lídia Pereira, Ciclos estruturam programação 2007/2008 (13-07-2007)
O TAGV no jornal universitário A Cabra: Bruno Vicente, Teatro académico exibe documentário contemporâneo (05-02-2007) e Sandra Henriques, Passado e futuro do Teatro Académico (13-07-2007)
O TAGV no Diário de Coimbra: Protestos no TAGV (02-03-2007) e Patrícia Isabel Silva, TAGV “heróico” ultrapassa 55 mil espectadores (13-07-2007)
O TAGV no Público: Maria João Lopes, Coimbra em Blues com a edição "mais ousada" (22-02-2007)
O TAGV no Jornal de Notícias: Nelson Morais, Teatro Gil Vicente assegura estreia às companhias locais (27-09-2006) e Américo Sarmento, Coimbra vibra de novo com blues (23-02-2007)
O TAGV na ESEC TV: videomemória (18 e 28 Fevereiro 2007, 15 e 22 de Março 2007)

04 setembro 2007

Crítica-TAGV: o TAGV visto pelos espectadores

[Notícia-TAGV]

O Senhor Ibrahim e as Flores do Corão, de Eric-Emmanuel Schmitt. Encenação de João Maria André. Interpretação de Rui Damasceno e Hélder Wasterlain. Ensaio geral, TAGV, 04 Julho 2007. Foto de Celestino Gomes.

A qualidade da programação deve reflectir-se na recepção, isto é, na participação do público na programação. Para que o espaço público alimentado pelas artes do espectáculo possa existir plenamente é preciso que exista também enquanto prática social de comunicação e de reflexão sobre as práticas artísticas. A recepção crítica é uma das formas que a recepção deve assumir. Apesar do incremento da produção e da criação no domínio das artes performativas verificado nos últimos anos, a recepção crítica é, em geral, débil, esporádica ou simplesmente inexistente. O projecto «Crítica-TAGV» tem como objectivo incentivar o exercício da recepção crítica, propondo aos espectadores que escrevam sobre espectáculos a que tenham assistido no auditório ou outras iniciativas realizadas pelo TAGV. O blog do Teatro será usado como fórum de publicação das contribuições seleccionadas.

São as seguintes as regras de participação no projecto «Crítica-TAGV»:
1º) todos os textos devem ser enviados para os endereços blogtagv@gmail.com ou teatro@tagv.uc.pt
2º) os textos devem ter entre um mínimo de 250 e um máximo de 500 palavras;
3º) os textos devem ser enviados nas 48 horas seguintes ao espectáculo ou iniciativa a que se reportam;
4º) todos os textos devem ser assinados em nome próprio e o/a autor/a deve indicar um número telefónico de contacto;
5º) os textos seleccionados serão publicados no Blog TAGV;
6º) a selecção dos textos a publicar é da responsabilidade da Direcção do TAGV;
7º) mensalmente, será atribuído ao/à autor/a da melhor crítica um convite válido para toda a programação do TAGV do mês seguinte;
8º) o TAGV reserva o direito de não atribuir o prémio referido na alínea 7 se a qualidade dos textos recebidos não o justificar;
9º) o prémio não poderá ser atribuído ao mesmo participante mais do que uma vez em cada temporada;
10º) nesta segunda edição, o projecto «Crítica-TAGV» decorre nos meses de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro de 2007.

Estes são alguns dos textos escritos pelos espectadores do TAGV na temporada 2006-2007:
Rodrigues Cunha: Lisbon Underground Music Ensemble (25 Novembro 2006)
Anabela Gonçalves: Blood Simple, Joel Coen (22 Janeiro 2007) e The Straight Story (29 Janeiro 2007)
miguel b.: Daqui em Diante (1 Março 2007), Malgré Nous, Nous Étions Là (22 Maio 2007) e Andrew Bird 3 (30 Maio 2007)
Ana Rita Candeias da Lança: Os Mutantes, de Teresa Villaverde (21 Março 2007)
Cláudia Cardoso: Ursula Rucker - A história do concerto (28 Março 2007)
Eloísa Valdes: Andrew Bird 2 (30 Maio 2007)

01 setembro 2007

Setembro 2007

[Arquivo-TAGV]


Agenda mensal TAGV. Design Joana Monteiro.

As adversativas e as concessivas são a expressão sintáctica do dilema contido em cada acto de programação. Um conjunto grande de variáveis condiciona a forma da programação. Mesmo quando se julga ter adquirido o conhecimento das capacidades e limites de acção da instituição. Mesmo quando se explicitaram todos os princípios que determinam as escolhas. Mesmo quando se clarificaram todos os objectivos das decisões. Mesmo quando se tornaram mais colectivas as formas de trabalho. Ainda assim, haverá factores imponderáveis que determinarão a forma final daquilo que fazemos. Se tudo correr bem, a temporada 2007-2008 permitirá observar o efeito combinado das mudanças gradualmente introduzidas na organização e na programação do TAGV durante os últimos dois anos. Apesar de um orçamento desencorajador, a estrutura e a intenção do que tentaremos fazer será certamente mais perceptível. Mesmo quando a imponderabilidade das contigências nos recordar que não controlamos todas as variáveis. Neste mês, a resposta ao dilema é dada através de um novo ciclo de cinema, «Cinefilia TAGV»; de um ciclo mensal de cinema documental, em colaboração com a Faculdade de Economia da UC; de um concerto pela Orquestra Gulbenkian, com Joana Carneiro e António Rosado; de uma extensão do «IndieLisboa»; de «Tchékhov e a Arte Menor» pel’ A Escola da Noite; e de uma exposição de Pedro Pousada.
MP