30 março 2007

Ursula Rucker - A história do concerto

[Crítica-TAGV]

Ursula Rucker, TAGV, 28 de Março de 2007. Foto de José Balsinha.

Aconteceu mais ou menos assim. No palco uma mulher cantava, ou melhor, dizia os seus poemas companhada de dois músicos. Parecia desconfortável. Pedia para baixarem as luzes do palco, dizia que não via o público, sentia-se longe do público. Mas nem por isso deixava de desfiar canções, transmitindo força, não se rendendo à aparente indiferença das pessoas que se sentavam na escuridão à sua frente. Os técnicos fizeram baixaram as luzes do palco, iluminaram a plateia mas nada disto melhorava o ambiente. Esta sensação de desconforto, que nós do lado de cá também sentíamos, culminou numa música em que Ursula Rucker perguntava se estávamos preparados para a revolução e pedia que nos manifestássemos estendendo o braço com o punho fechado. Viram-se três ou quatro braços e a cantora concluiu que não estavamos preparados. O concerto continuou mais ou menos neste ambiente até à penúltima música. Desta vez a cantora pede, num dos seus poemas, para libertarmos o nosso coração. Diz também que aquilo não é um espetáculo, que quer comunicar e por isso pede uma reacção. A sala reage aplaudindo, e uma pessoa levanta-se. Uma segunda pessoa põe-se também de pé, outra e mais outra, e o resto da música, que vai durar ainda uns bons minutos, é acompanhada por estes aplausos que não diminuem o seu ritmo nem o seu volume, e as pessoas continuam de pé. Tinha-se finalmente quebrado o gelo. Visivelmente emocionada Ursula Rucker diz-se simplesmente sem palavras. Canta mais uma música e os aplausos fazem-na voltar para uns extras e a promessa de vir falar ao público no exterior da sala.

Os seus poemas falam de mulheres, de negros e brancos, da sociedade, das guerras. São muito claros, muito explícitos e combativos. Alguns são longas listas de artistas ou deuses ou injustiças. A música que acompanha a sua voz, um guitarrista e um baterista, é interessante, com alguns efeitos sonoros que enchem o palco. A voz de Ursula Rucker está cheia de força. Ela, sim, parece estar preparada para a revolução. E provavelmente já começou a fazê-la.

Cláudia Cardoso [29-03-2007], in http://coimbraenossa.blogspot.com/

29 março 2007

Ursula Rucker no TAGV (28 Março 2007)

[Arquivo-TAGV]


O que uma mulher tem de fazer

Até te pores a andar, a correr, a lutar no seu lugar
Não te atrevas a dizer diante de mim
O que uma mulher tem de fazer
Até te pores a andar, a correr, a lutar no seu lugar
Não te atrevas a dizer diante de mim

O que uma mulher tem de fazer
O que uma mulher tem de fazer

Ela tem de
Fazer das tripas coração para maridos e amantes indignos
Que lhe negam o sufrágio de dia, mas lhe anseiam e elogiam os encantos de mulher à noite
Serve para fornicar, mas não para votar
Tem de
Trocar a beleza de África pelos horrores do patrão
As mamas pendendo nuas e sem vergonha
Pelo estigma de licenciosa, tentadora, vergonhosa
A terra do inhame e do calor abrasador
Pelas plantações lucrativas e pelos leilões do negreiro
Trocar... os nomes de Deus, por nome nenhum, pelo nome do dono
Trocar... os nomes de Deus, por nome nenhum, pelo nome do dono
Ora Negra
Ora inumana
Privada de liberdade, privada da família, ora forçada... mas ainda dourada
Nos campos a gritar... e Ain't I A Woman
Ain't I A Woman

Vejo-a a ela, eu,
A lavar a loiça, a roupa, as crianças,
A fazer amor, dinheiro, o jantar, e as camas
Sempre a primeira a abandonar o navio naufragado
Mas a última na fila do respeito


O que
O que uma
O que uma mulher
O que uma mulher tem de
O que uma mulher tem de fazer
O que uma mulher tem de fazer
O que uma mulher tem de fazer
Tem de fazer
Tem de fazer, tem de fazer, tem de fazer, tem de fazer, tem de fazer...

Tem de
Limpar as lágrimas e recobrar forças
Depois da violação, do aborto, da traição do amado, do nascimento do filho, da morte da filha, do abuso do marido
Enganar para conseguir comprar os sapatinhos do bebé
Tem de
Ser chamada musa
Por quem a usa
Posta em pedestais
Delicada e protegida
E por causa disso desrespeitada
Puritanizada
Tornada num paradoxo de famoso anonimato
Levada à loucura por feminilidade a mais
De olhos fitos no papel de parede amarelo


De coração
Aberto
De pernas
Abertas
Calorosa e acolhedora
À espera... de telefonemas que nunca chegam
À espera... de palavras de apreço que nunca chegam
À espera... de salário igual que nunca chega
À espera

À espera, à espera, à espera
À espera, à espera, à espera

À espera de amor
À espera de reconhecimento e não de juízos
À espera

E quando consegue algum tipo de poder
Reduzida a nomes como...

Concubina. Cabra. Puta. Prostituta. Fantoche. Bruxa. Fufa.
Concubina. Cabra. Puta. Prostituta. Fantoche. Bruxa. Fufa.


Ursula Rucker, TAGV, 28 de Março de 2007. Fotos de José Balsinha.

Até te pores a andar, a correr, a lutar no seu lugar
Não te atrevas a dizer diante de mim
O que uma mulher tem de fazer
Até te pores a andar, a correr, a lutar no seu lugar
Não te atrevas a dizer diante de mim

O que
O que uma
O que uma mulher
O que
O que uma
O que uma mulher tem de
O que uma mulher tem de
O que uma mulher tem de fazer
O que uma mulher tem de fazer

Ursula Rucker, «What a Woman Must Do», in Silver or Lead (2003) [Trad. MP]

25 março 2007

Ma’at Mama no TAGV pela mão de Ursula Rucker

[Notícia-TAGV]

Ursula Rucker. Fotos © Steve Belkowitz

Música, activista social e política, mãe e cantora. É assumindo em pleno estes papéis que Ursula Rucker demonstra continuar a acreditar no poder das palavras como forma de alertar e alterar consciências. No disco que editou o ano passado, Ma’at Mama, e que agora apresenta ao vivo, a criadora de Filadélfia prossegue a sedimentação de um percurso artístico, que a converte num caso peculiar da pop contemporânea de inspiração negra.

Se no passado uma das notas de registo eram os inúmeros cúmplices com quem habitualmente gravava no processo de construção dos seus álbuns, em Ma'at Mama a fidelização quase exclusiva a Anthony Tidd chama à atenção, embora não tenha significado homogeneidade, mas antes consistência. Sem surpresa, é de novo a música que suporta a visão poética da norte-americana, numa combinação de palavras pertinentes e elementos sonoros depurados e subtis.

A sua voz límpida mantém o mesmo carácter misterioso e hipnótico dos registos anteriores, deambulando por entre ambientes jazzísticos, texturas soul, registos minimalistas e estruturas rítmicas inspiradas no funk, no hip hop e na electrónica. O funk pulsante de “Rant (Hot In Here)”, a estrutura jazz clássica de “Black Erotica” ou a electrónica e os gordos ritmos hip hop de “I Ain’t (Yo’ Punk Ass Bitch)” suportam as narrativas de alguém para quem escrever é uma questão de sobrevivência. O que, por si só, quase que justifica a coerência de um discurso que, para muitos, se tratará apenas de uma repetição de palavras, cujo significado incisivo se perdeu à força de tão proferidas por um sem número de pensadores, poetas ou cantores.

No entanto, pela mão de Ursula Rucker a combinação entre palavras e música – na mesma sequência declama, canta ou trauteia um esboço de melodia – acontece da forma certa, com os sons a servirem para ampliar o valor das construções frásicas, a subjectividade das emoções ou o dramatismo das referências. Porque as palavras são a sua vida.
PDS

[adaptação de artigo originalmente publicado no Jornal Blitz]

23 março 2007

People Like Us + Donna Regina [Ciclo Senses: 22 Março 2007]

[Arquivo -TAGV]


People Like Us. Ciclo Senses. TAGV 22.03.07. Fotos: Mário Henriques.

É um daqueles projectos onde a matéria prima trabalhada é proveniente de uma infinidade de quadrantes, ganhando novas e distintas realidades quando (re)contextualizada por quem a manipula. No ecrã e no sistema sonoro da sala ícones imagéticos referenciais, sons do quotidiano, estímulos cromáticos de intensidade variável, silêncios ou ruídos que remetem o espectador por uma imensidão de referências visuais disputam predomínio, sem que haja hierarquização, assumindo-se o experimentalismo como linha condutora. A música é quase sempre precisa, com a pulsação cardíaca invariavelmente certeira e os restantes elementos a preencherem o espaço em divagações incisivas. Ao vivo, Vicki Bennet adoptou figuras de correntes definidas, mas é como se já não tivessem vínculo estilístico com as fontes, desmontando idiomas de improvável relação e remontando-as de forma aparentemente aleatória (sem nunca o serem), fazendo-nos acreditar que essa pode ser a ordem natural das coisas. Algo muito próximo de um conto de fadas em cenário de esplendor tecnológico alucinado. People like us? Uma bola de espelhos perante os olhos da assistência.



Donna Regina. Ciclo Senses. TAGV 22.02.07.Fotos: Mário Henriques.

Imagina-se o campo e não a cidade. Um cenário preenchido por electrónica emotiva, que evita os estratagemas estafados de parte da música mundana produzida nos últimos anos da década de 90 e que tem um pé na década imediatamente anterior. Com a voz de Regina Janssen como guia, as criações do colectivo alemão Donna Regina são marcadas pela utilização quente e sensitiva da tecnologia, colocada ao serviço de uma música que descobre para si própria uma infinidade espacial – pela mão de Gunther Janssen e Steffen Irlinger – espreguiçando-se vagarosamente sobre um manto de organismos digitais, remendos acústicos e uma afectividade pop de efeito certeiro. Isso mesmo permitiu que os temas que apresentaram fossem sendo construídos a partir de dinâmicas distintas, nunca revelando repetições exaustivas ou caindo na monotonia. Um universo musical de melodias transparentes e evocações calorosas.
PDS

22 março 2007

Os Mutantes, de Teresa Villaverde (21 Março 2007)

[Crítica-TAGV]

Os Mutantes (1998), de Teresa Villaverde, TAGV, 21 Março 2007.

Nós vimos o filme, eles vivem o filme…

Teresa Villaverde enceta uma película que cheira aos cais do Tejo, que sabe a fome, que escuta as vozes que ecoam dos resquícios de carvão numa parede, que vê para além do sangue gotejado em azulejos brancos duma casa-de-banho duma estação de serviço, que sente num afago que a verdadeira liberdade mora no coração.

A ficção cabe no mundo referencial do espectador, no momento em que ele se funde com a realidade crua que a câmara desvela, porque a história da Andreia que excreta um filho numa casa-de-banho pública imiscui-se no tecido moral da história que cada um de nós perfaz. Construímos uma sequência do antes e do depois de cada cena para legendarmos ficcionalmente aquela história. A história da Andreia, a Andreia que gosta de dançar mas se sente embaraçada, a Andreia que tem fome, e que dois dias depois continua com fome!

Alguém afirmou que o realizador segue um guião? Esta obra interpela-nos a actualizarmos o guião, mesmo a construí-lo.

O grito do Pedro...ouvimo-lo...no silêncio que escutamos. Esse é sem dúvida o apelativo desta criação cinematográfica, podermos escutar a nossa voz interior, que tantas vezes o cinema torna muda. Aqui a realizadora cria o cenário para que fiquemos a sós, nós e o que temos cá dentro; a nossa história, a nossa capacidade de sentir, as nossas crenças, os nossos construtos ético-sociais. Nós e a nossa identidade social.

Quem somos afinal? Uma peça num tabuleiro de xadrez, a quem é atribuído um pseudo-passe de livre circulação, mas se vislumbra amarrada a constrangimentos normativos, inscritos tacitamente no passe? Que poder tem cada um de nós no delinear do trilho da nossa vida? Que poder nos permitimos ter?

O Pedro perseguia a liberdade e ela fugia...acabou por agarrá-la quando parou, esfregou os olhos e perguntou ao irmão «Ficas comigo?».

Ana Rita Candeias da Lança [22-03-2007]

21 março 2007

Dos 53 cm aos 110,5 cm

[Arquivo-TAGV]




Teatro de Marionetas do Porto, Como um carrossel à volta do sol, texto e encenação João Paulo Seara Cardoso, TAGV, 21 de Março de 2007. Fotos © Teatro de Marionetas do Porto.

Como acontece noutros espectáculos do Teatro de Marionetas do Porto, a encenação de João Paulo Seara Cardoso funciona sempre em dois planos: ao mesmo tempo em que estabelece a referência extra-palco dos actos, das palavras e dos objectos, representa a própria teatralidade, isto é, o processo de composição sintáctica que, a partir de um conjunto de adereços, movimentos, palavras, sons e luzes, gera uma narrativa dramática. E o que é extraordinário neste trabalho é a simplicidade gestual, linguística e plástica com que a encenação capta a imaginação daquele que parece ser o seu público preferencial - as crianças em idade pré-escolar. Trata-se de contar-lhes uma estória, que é também a estória do seu próprio crescimento em curso, numa linguagem que reflecte os modos de apreensão do mundo próprios de uma criança com menos de 6 anos. A utilização da voz de criança em off reforça o eixo narrativo central da estória, que simula a autoconsciência e o conhecimento do mundo a partir de um ponto de vista infantil.

No fundo, Como um carrossel à volta do sol responde à pergunta o que é crescer?, situando a sua narrativa num momento psicomotor específico: aquele em que o desenvolvimento gradual da capacidade simbólica permite dar conteúdo semântico a palavras e a objectos. Isto significa ligar palavras a objectos (casa, carro, árvore, vaca, pássaro, nuvem, chuva, sol), dando a esse vínculo a densidade da materialidade da própria percepção sensorial dos objectos. Significa também reconhecer o jogo próprio dos símbolos, isto é, o facto de uma palavra poder representar outro referente diferente do convencional, ou o facto de um objecto poder representar outro objecto, ou o facto de um som ou um gesto poderem ganhar de repente uma nova significação, ou o facto de certos acontecimentos só serem compreensíveis por analogia com outros acontecimentos.

É essa a magia da linguagem e, claro, a magia do teatro. Crescer é, neste sentido, aprender a fazer de conta. Aprender a manipular os símbolos, a jogar com as figuras, a compará-las, a substituir umas por outras, a estabelecer este vínculo do conhecimento ao conhecimento das palavras e dos objectos, e ao conhecimento do próprio eu. O conhecimento das emoções próprias, da alegria e da tristeza, e do medo, é outro dos objectos teatralizados. Através das perguntas e diálogos em off, e através da sequência aparentemente desligada das cenas, Como um carrossel à volta do sol representa o processo de crescimento essencialmente como um processo de semiose, quer dizer, um processo de interpretação de signos por meio de outros signos. Na sua simplicidade plástica e linguística está contido um ensaio sobre os modos particulares de as crianças conheceram a linguagem e o mundo. E, mais ainda, sobre o próprio teatro como dispositivo de comunicação capaz de encenar a natureza essencialmente simbólica da cognição humana.
MP

20 março 2007

Coimbra em Blues (17 Março 2007)

[Arquivo-TAGV]

Alabama 3, Coimbra em Blues, 5º Festival Internacional de Blues de Coimbra, TAGV, Março de 2007. Fotos: Mário Henriques.

18 março 2007

The blues in TAGV

[Crítica-TAGV]

Black Diamond Heavies, Coimbra em Blues, 5º Festival Internacional de Blues de Coimbra, TAGV, 16-03-2007. Foto de Mário Henriques.

Bob Log III, Coimbra em Blues, 5º Festival Internacional de Blues de Coimbra, TAGV, 16-03-2007. Foto de Mário Henriques.

Um concerto pela primeira vez é sempre aos olhos de quem está uma surpresa e uma ansiedade. Agradecemos a Deus correr bem. Mas é um erro porque se eles são bons é pelo talento e pelo trabalho e talvez Deus também tenha alguma coisa a ver. Ou não. Mas isso, eu não sei. Ver Black Diamond Heavies é voltar atrás a um tempo que a minha geração não viveu na pele (ou não se apercebeu) - a geração de 80. É bom para quem ama. É bom para quem gosta, é bom para quem curte. É bom ouvir Nina Simone. É bom saber que ela tem influência naqueles que amam. Melhor é sentir, e a incapacidade de se estar quieto é uma imagem utópica num concerto destes. «O sorriso aos pés da escada» - neste caso, um sorriso aos pés do palco.

Bob Log III – e a criação de uma personagem!! Verdadeiramente personagem: o astro man dos blues, «power ranger» – como alguém querido me disse. Um capacete, um telefone, uma guitarra (linda linda) que a personagem toca sublimemente, como, e diga-se de passagem, eu nunca vi – e eu gosto de Hendrix! As the man said «the fastest song in one million years, and if you play guitar watch it well ‘cause we won’t see it again». O mito criou a personagem. A personagem criou o mito. E conseguiu. The “Log BomB” is in action. We hope we’ll see it again. O êxtase à beira da pele. O êxtase a transbordar na pele.

Anabela Gonçalves [17-03-2007]

17 março 2007

Coimbra em Blues (16 Março 2007)

[Arquivo-TAGV]

Black Diamond Heavies, Coimbra em Blues, 5º Festival Internacional de Blues de Coimbra, TAGV, 16 de Março de 2007. Foto de José Balsinha.

Bob Log III, Coimbra em Blues, 5º Festival Internacional de Blues de Coimbra, TAGV, 16 de Março de 2007. Foto de José Balsinha.

16 março 2007

Coimbra em Blues (15 Março 2007)

[Arquivo-TAGV]


Hell's Kitchen Blues Band, Coimbra em Blues, 5º Festival Internacional de Blues de Coimbra, TAGV, 15 de Março de 2007. Fotos de José Balsinha.



Son of Dave, Coimbra em Blues, 5º Festival Internacional de Blues de Coimbra, TAGV, 15 de Março de 2007. Fotos de José Balsinha.

15 março 2007

Moldar o som

[Máquina-TAGV]

Mário Henriques, sonoplasta, Serviços Técnicos TAGV (Março 2007).

Comecemos com esta metáfora: ter o som nas mãos. Ou com esta: desenhar o som. E, partindo daqui, imaginemos a forma particular do trabalho técnico e plástico do sonoplasta. Desde logo na capacidade de adequar o instrumento de captação a conjuntos de vibrações sonoras específicas. Colher das ondas o essencial do seu espectro de frequências. Depois, amplificar e equalizar esse input de acordo com o output permitido pelos instrumentos de reprodução. A mediação técnica fica assim balizada entre dois limites: o que pode entrar e o que pode sair. Depois, a mistura dos sons, que obriga a considerar a equalização relativa dos vários canais, a redistribuir graves e agudos, a definir a altura relativa de cada instrumento, a decidir dos efeitos a sobrepor às frequências que circulam sob a forma de impulsos eléctricos dentro da mesa. Depois, considerar todas as variantes em função da acústica da sala. Perceber a volumetria do som, isto é, o modo como recorta o espaço. Perceber como se redistribui, nas várias direccções, a partir do lugar da fonte sonora. Perceber ainda como é delimitado pelo silêncio, negativo da massa sonora. Tem-se nas mãos e, no entanto, não se consegue agarrar. Nisso é como a passagem do tempo. Apenas a repetição que cria o ritmo dos dias permite escutar o desenho.
MP

13 março 2007

Por mão própria

[Máquina-TAGV]

Carlos Santos, Serviços Administrativos TAGV: foto de Maria Miguel Ferrão (28-07-2006).

Mesmo sem as sandálias aladas do arauto divino, poderíamos descrevê-lo como o Hermes do TAGV. Cabe-lhe levar e trazer em mão muitas das mensagens que atravessam as portas do Teatro. Sob a forma de cartas que entram e saem, ou sob a forma de folhas volantes e cartazes que diariamente circulam no perímetro da universidade e no centro da cidade. Neste fluxo de mensagens sobressai o correio oficial do Teatro, isto é, aquele que o representa como instituição, levando as suas decisões ao conhecimento de inúmeros interlocutores, individuais e colectivos. O mensageiro tem, neste trajecto de mediação, um papel quase invisível. Mas podemos vê-lo se estivermos atentos. A subir e a descer as escadas, rua acima e rua abaixo, na fila do correio e no balcão de atendimento, a recolher e a entregar encomendas, a pé e de autocarro, junto a uma montra e na sombra de uma parede, à porta de um café e no meio da praça, parado na calçada e atravessando a estrada, à chuva e ao sol, com as mãos cheias e com as mãos vazias. São estes os movimentos e os lugares da sua função. Na máquina de mensagens que o Teatro também é, cabe ao mensageiro cuidar deste tráfego e entregar por mão própria as mensagens que lhe confiam às próprias mãos.
MP

08 março 2007

TAGV em Blues

[Notícia-TAGV]

Cartaz Coimbra em Blues 2007: design de Joana Monteiro/FBA.

Com esta 5ª edição, o Festival Internacional de Blues de Coimbra reforça a sua identidade específica e, ao mesmo tempo, permite ao Teatro Académico de Gil Vicente voltar a encarnar plenamente no seu papel de instituição de programação. Tentemos então, mais uma vez, descrever brevemente esta feliz associação entre o «Coimbra em Blues» e o TAGV.

Uma das características da programação do «Coimbra em Blues» destes cinco anos tem sido a combinação de formas tradicionais da canção negra norte-americana, sejam de origem rural ou de origem urbana, com formas contemporâneas, de latitudes diversas, que transfiguram as matrizes originais. Por um lado, tem sido possível ouvir os clássicos (de Robert Johnson, John Lee Hooker, Blind Willie Johnson, Howlin’ Wolf, Muddy Waters, R.L. Burnside, Junior Kimbrough, etc.) nas reinterpretações de cantores como Paul Jones, Reverend Vince Andersen, Sheila Wilcoxson, Little Freddie King ou Adolphus Bell. Por outro lado, como sucedeu nos concertos de Kenny Brown e Heavy Trash, em 2006, podemos perceber a influência da linguagem instrumental e vocal dos blues em formas que cruzam este género musical com outros géneros. A ligação quase umbilical entre o blues e o rock, por exemplo, mantém-se viva numa nova geração de músicos que, pelo mundo fora, continua a reapropriar-se daquela tradição. «Coimbra em Blues» tem procurado mostrar os blues como prática viva e em plena evolução, mesmo quando é interpretado pelas gerações mais velhas, e não como mera reinterpretação estandardizada de covers e solos em slide guitar. É precisamente essa produtividade continuada dos blues enquanto fonte e matriz seminal da música popular que se pode apreciar na programação de 2007, através de um conjunto de músicos, de diversas origens geográficas, que nos mostram ao mesmo tempo a filiação e a transfiguração do blues no blues contemporâneo: Hell’s Kitchen Blues Band e Son of Dave, a 15 de Março; Bob Log III e Black Diamond Heavies, a 16 de Março; e Scott H. Biram e Alabama 3, a 17 de Março.

Na medida em que se trata de um festival inteiramente organizado e produzido pelo TAGV, «Coimbra em Blues» constitui uma demonstração da capacidade de produção e programação próprias. E é esta capacidade, antes de mais, que permite ao TAGV a realização da sua missão específica e a afirmação da sua identidade pública. Que o festival «Coimbra em Blues» tenha ganho crescente projecção nacional e internacional resulta tanto da qualidade da programação como do trabalho colectivo das equipas do Teatro. E que a essa programação e a esse trabalho tenha correspondido o interesse continuado do público mostra a felicidade da associação que em 2003 se estabeleceu entre o TAGV e os blues. Uma associação cuja relevância artística e cultural tem sido reconhecida também através dos apoios obtidos.

Refira-se que a edição de 2007, como aconteceu em 2005 e 2006, é uma organização conjunta do TAGV e da Delegação Regional da Cultura do Centro. À DRCC, na pessoa do Prof. António Pedro Pita, são devidos os agradecimentos do TAGV. O TAGV agradece igualmente ao assessor artístico, Paulo Furtado, cujo conhecimento e paixão pelo blues nos oferecem programas únicos e memoráveis. Refira-se ainda, como novidade desta edição, a cooperação com o Teatro Municipal da Guarda, que integra no seu próprio festival duas das bandas convidadas. O TAGV sofre de blues? Sim, sem dúvida. E, com o TAGV em blues, voltamos em 2007 a ter «Coimbra em Blues» mais uma vez.
MP

04 março 2007

Morreu

Não há, para este texto, nenhuma categoria no blog tagv: Alface, um dos escritores convidados pelo TAGV em 2006, faleceu na madrugada do passado dia 2 de Março, em Lisboa.

Sexta-feira, dia 2, de manhã, quando ia para a aula, alguém me perguntou, à saída do elevador, se sabia que o Alface tinha sofrido um acidente vascular cerebral. Não sabia. Na noite anterior, a meio de uma leitura. Pergunto-me se terá sido muito grave e imagino-o internado no hospital. Algumas horas mais tarde, recebo a notícia da sua morte, lida por Elisabete Cardoso a partir da edição em linha do Público [«Escritor Alface vítima de AVC durante homenagem na Culturgest» 02.03.2007 - 15h43 Adelino Gomes]. Sexta-feira, dia 2, ainda mais tarde, vou a conduzir. No noticiário das 18h na Antena 1, a locutora dá a notícia do óbito, realçando a circunstância de ter acontecido em plena leitura, numa comunidade de leitores reunida na Culturgest. Faz em seguida uma apresentação sumária da obra de Alface. Reconheço nestas últimas palavras as minhas próprias. Terá certamente usado como fonte a nota biográfica que escrevi para o apresentar no dia 19 de Julho de 2006, quando esteve no TAGV para falar sobre o romance Última Saída para Brooklyn, de Hubert Selby Jr. Fica assim, indirectamente, reavivada, no dia da notícia da sua morte, a presença do escritor no TAGV.


A 19 de Julho de 2006, quarta-feira, Alface falara-nos como «escrileitor» da obra de Hubert Selby Jr, em particular das qualidades de escrita e de narrativa que admirava em Selby: a capacidade de captar o calão, a gíria e o ritmo fonético da língua falada; a densidade de análise psicológica e de observação sociológica; o trabalho depurado sobre o ritmo sintáctico; a extrema auto-exigência. Alface ia passando os olhos pelos seus apontamentos manuscritos, pedindo-me, de vez em quando, que lesse excertos da tradução portuguesa, de Paulo Faria, de Última Saída para Brooklyn. As suas reflexões e as minhas leituras iam sendo entrecortadas por canções de Lou Reed. Alface encontrava semelhanças entre o olhar cáustico e condoído das letras de Lou Reed e a perspectiva clínica e crua de Selby, ambas capazes de retratar com amargo hiperrealismo figuras humanas e figuras de linguagem. Escutámos, entre outros, excertos de «Sweet Jane» e «Walk on the Wild Side».

Conheci Alface no dia 13 de Dezembro de 1997, na Livraria São Bento. Lembro-me da data porque foi o dia em que apresentei Tristram Shandy, de Laurence Sterne, que tinha acabado de ser publicado. Admirador da obra, que lera em francês, Alface quis conhecer o tradutor português. Mantivemos, desde então, um contacto esporádico. Três desses encontros estão assinalados em três dedicatórias afectuosas nos últimos livros: a 10-07-2003, a 20-10-2005 e a 19-07-2006. Guardo ainda algumas mensagens, onde o ritmo sincopado, a sintaxe lacónica e o humor sardónico se fazem sempre notar. Cito duas:

Sent: Friday, November 11, 2005 2:22 PM
Subject: Atão
Atão, Manel, já leste ou não leste? E que opinas? Estou curioso, confesso. Apita. Um abraço.
alface

Sent: Thursday, December 22, 2005 6:29 PM
Subject: Pai natal versus Homem aranha, um combate para a eternidade
Caro Manel
Antes que te chutem para a Ota aqui vão votos de grão sapatão e um 06 rebué de gozos. Abraço.
Alface
Sabemos que João Alfacinha da Silva, nascido em Montemor-o-Novo, esteve vivo durante algum tempo. E agora já não está. Ficará registado esse intervalo, entre parêntesis, nos livros: (1949-2007). Já só os leitores, durante mais algum tempo, poderão emprestar vida aos livros magníficos que escreveu. Depois, de cada um dos leitores, alguém dirá também um dia: morreu.
MP

Daqui em Diante

[Crítica-TAGV]

Companhia Olga Roriz, Daqui em diante, TAGV, 01-03-2007.

Nunca, daquilo que conheço do seu trabalho, Olga Roriz foi tão desassombrada a representar o desvario amoroso, e como, nas suas variadas matizes, esse desvario nos faz percorrer o caminho, doloroso mas irresistível, que vai da elegância e da sofisticação do mundo social civilizado à mais primitiva compulsão. A peça ‘Daqui em Diante’ refaz esse percurso, quadro a quadro, até os bailarinos parecerem estar à beira da desagregação, desfeitos nos elementos mais essenciais, como a terra e a água, para depois mostrar que o caminho de regresso, sendo possível, tem todavia a beleza patética de um baile com marcações rigorosas. A vida continua (‘E la nave va’, como no título de um dos filmes de Fellini), parece dizer o derradeiro quadro da peça.

Por outro lado, nunca também o trabalho de Olga Roriz foi marcado por uma tão pungida tristeza. Naturalmente o humor não está ausente, quer através de uma fina ironia quer através de alguns habituais momentos de burlesco, mas nesta peça de Roriz o amor é sempre um lugar de solidão e desencontro, de vazio e incomunicabilidade. Mesmo, ou sobretudo, quando se tem a ilusão do desvario. Todo o trabalho de Olga Roriz é marcado por um intenso sentido da beleza e por uma procura, ou melhor por um desvelar do erótico (toda a dança é erótica, no sentido em que é sempre um corpo à procura do que está fora dele). Em ‘Daqui em Diante’ há uma sensualidade quase amarga, áspera, desamparada, como se esse erotismo fosse uma ave que não encontra ramo onde pousar.

Quanto ao resto, esta peça tem tudo aquilo a que nos habituámos a amar na dança de Olga Roriz: uma noção de palco rigorosa, uma linguagem sempre mais coreográfica do que técnica, e uma selecção musical que faz com que sempre tenhamos a sensação de que a música é de facto o ponto de origem de toda a dança, de que é sempre a partir de um determinado trecho musical que nasce a ideia da coreografia, como se a dança não fosse senão o sonho da música em ver-se representada pelo corpo.

miguel b. [02-03-2007]

02 março 2007

Auto-erotismo trans-sexual: Olga Roriz no TAGV (1 Março 2007)

[Arquivo-TAGV]


Quem conhece a obra da coreógrafa Olga Roriz terá reconhecido as suas frases coreográficas e os seus adereços. Podíamos designá-los também como as suas obsessões: nos movimentos repetidos compulsivamente, na exposição da carnalidade dos corpos, na mesa, nas cadeiras, na toalha, nas flores, na água, na terra, nos sapatos de salto alto, no vermelho, no branco e no preto dos figurinos, na dança dos cabelos, na luz quente e na luz fria. Mais ainda do que em peças anteriores, o que se salienta é a contradição quase constante entre a auto-referencialidade dos movimentos, que parece tornar os corpos ensimesmados ao ponto do autismo, e a lógica melodramática e narrativa introduzida pelas músicas escolhidas. Idêntico conflito é o que se cria entre os vários quadros coreográficos, somados como um todo intencionalmente incoerente, no qual a hipótese de sentido narrativo introduzido pela música é minada pelo movimento como compulsão corporal automática.


Deste contraste entre a teatralidade da música e o ensimesmamento dos corpos decorre a alternância esquizofrénica entre narcisismo e entrega ao outro. Uma entrega que é sempre voraz, fugaz e precária, expressão da energia amorosa como fluído que dissolve a identidade ao mesmo tempo que atira o sujeito para os limites confinados do seu próprio corpo. A coreografia dos actos sexuais mostra esse continuum entre o auto-erótico e o trans-sexual. Ser no espaço que se é significa dar às diferentes partes do corpo a possibilidade de constituirem entre si, e de si para si, uma coreografia própria, abandonando o seu mutismo e a sua subordinação ao todo. Os cabelos podem assim dançar por vontade própria. Ou os braços tocarem as pernas. Ou as mãos taparem a cara.

Companhia Olga Roriz, «Daqui em Diante», Ensaios, TAGV, 01-03-2007: fotos de Mário Henriques.

A dança-teatro caracteriza-se pela capacidade de coreografar como gesto dançável toda a sintaxe dos movimentos humanos: os gestos repetidos e quase invisíveis do quotidiano, mas também os gestos de máxima expressividade corporal, de agonia e sofrimento, ou de alegria e júbilo. Os movimentos de sedução, por exemplo, são decompostos e recompostos em inúmeras variações. O mesmo se poderia dizer dos movimentos da solidão, aqueles em que o corpo se abandona a si mesmo. Excessivo na sua lógica onírica, «Daqui em diante» exulta no não-sentido do gesto que desconhece a sua própria razão de ser, ou do movimento que mostra a veemência da vontade do corpo. A terra e a água, como o choro e o riso, são os contrários que se tocam quando o trágico se torna cómico e o cómico, trágico.
MP

Protestos no TAGV

[TAGV-Recorte]

Os 21 assistentes de sala, funcionários das bilheteiras e porteiros gerais do Teatro Académico Gil Vicente (TAGV) protestaram ontem à noite pelo atraso dos vencimentos mas a direcção já prometeu regularizá-los na próxima semana.

O protesto simbólico foi realizado por ocasião do espectáculo inaugural da IX Semana Cultural da Universidade de Coimbra - um espectáculo de dança contemporânea da companhia de Olga Roriz, intitulado “Daqui em Diante”, disse à Lusa um elemento que participou na acção.

Os estudantes manifestaram o seu desagrado pelo atraso no pagamento de três meses de honorários - Dezembro, Janeiro e Fevereiro - condicionando o acesso à sala e procedendo à distribuição de folhetos alusivos à sua situação.

«Pretendemos chamar a atenção dos espectadores para a nossa situação, não é objectivo prejudicar o teatro nem as pessoas que aqui trabalham», referiu Marisa Borges, porta-voz dos colaboradores do TAGV que realizaram o protesto. A mesma fonte acrescentou que o descontentamento foi demonstrado «através de uma greve de zelo e atraso no início do espectáculo, direccionada para a percepção por parte das entidades competentes presentes neste acontecimento, nomeadamente a Reitoria da Universidade de Coimbra e a Direcção do TAGV, da gravidade deste problema».

Os colaboradores afirmam que «os encargos financeiros que têm de cumprir são imensos e o trabalho no TAGV funciona como complemento para responder às dificuldades que atravessam para cumprir com o pagamento de rendas, de propinas, em suma, da sua frequência no ensino superior».

O director do TAGV, Manuel Portela, refere num comunicado à imprensa, que a direcção «em reunião havida hoje (ontem) na administração da Universidade de Coimbra, tem a garantia de que os meses em atraso serão processados já na próxima semana». Caso a situação não seja resolvida nos próximos dias «ponderaremos outras formas de protesto, sem nunca por em causa o TAGV», disse Marisa Borges.

Manuel Portela esclarece ainda que «foi também encontrada uma solução orçamental para evitar este problema de forma definitiva no futuro». «Apesar da actual situação orçamental, o TAGV actualizou em 2006 o valor das horas e dos turnos de trabalho, procurando garantir uma remuneração condigna a todos os estudantes que prestam este serviço», adianta a direcção do TAGV, salientando que «está consciente da importância e da qualidade do seu trabalho».

«A direcção do TAGV reconhece a inteira justiça do protesto e tudo fará para que os motivos que estão na sua base não voltem a ocorrer», promete ainda Manuel Portela que explica a situação com a falta de apoios para o funcionamento da instituição.

No mesmo comunicado afirma que o TAGV «tem sido negativamente discriminado» e que a discriminação negativa «decorre não apenas do seu enquadramento jurídico peculiar mas da evidente falta de visão dos responsáveis políticos locais e nacionais no que diz respeito ao financiamento de uma instituição desta natureza». «Este alheamento é ainda mais notório se avaliarmos comparativamente as actividades realizadas pelo TAGV e por instituições congéneres», aponta.

Diário de Coimbra, 02-03-2007

01 março 2007

Março 2007

[Arquivo-TAGV]

Agenda mensal do TAGV, nova série, design de Joana Monteiro/FBA.

Às vezes, a ordem das coisas surpreende-nos, mesmo quando tomámos parte na sua organização. É o que acontece neste mês de Março, que nos dá um modelo da política de programação do TAGV: na combinação de disciplinas, na atenção à sua missão universitária, na resposta à iniciativa local, na internacionalização, na programação educativa e, mais do que tudo, na capacidade de produção própria. Repare-se em alguns elementos desse todo: a Companhia Olga Roriz com «Daqui em diante», coreografia inspirada em Beckett; o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa; as exposições «O Direito a uma Escrita Solar», «A Indústria Mineira» e «sem nós nem abrigo»; o ciclo «Escaparate»; o festival «Coimbra em Blues», que nos traz a transfiguração do blues, com Hell’s Kitchen Blues Band, Son of Dave, Bob Log III, Black Diamond Heavies, Scott H. Biram e Alabama 3. Acolhemos ainda o Teatro de Marionetas do Porto e, no Dia Mundial do Teatro, a produção «Moby Dick», baseada em Melville [cancelada]. E sobra um dia para o ciclo «Senses» e mais um para a poeta-cantora Ursula Rucker e mais um ainda para a escritora Luísa Costa Gomes. Quem diria?
MP