Ursula Rucker - A história do concerto
Ursula Rucker, TAGV, 28 de Março de 2007. Foto de José Balsinha.
Aconteceu mais ou menos assim. No palco uma mulher cantava, ou melhor, dizia os seus poemas companhada de dois músicos. Parecia desconfortável. Pedia para baixarem as luzes do palco, dizia que não via o público, sentia-se longe do público. Mas nem por isso deixava de desfiar canções, transmitindo força, não se rendendo à aparente indiferença das pessoas que se sentavam na escuridão à sua frente. Os técnicos fizeram baixaram as luzes do palco, iluminaram a plateia mas nada disto melhorava o ambiente. Esta sensação de desconforto, que nós do lado de cá também sentíamos, culminou numa música em que Ursula Rucker perguntava se estávamos preparados para a revolução e pedia que nos manifestássemos estendendo o braço com o punho fechado. Viram-se três ou quatro braços e a cantora concluiu que não estavamos preparados. O concerto continuou mais ou menos neste ambiente até à penúltima música. Desta vez a cantora pede, num dos seus poemas, para libertarmos o nosso coração. Diz também que aquilo não é um espetáculo, que quer comunicar e por isso pede uma reacção. A sala reage aplaudindo, e uma pessoa levanta-se. Uma segunda pessoa põe-se também de pé, outra e mais outra, e o resto da música, que vai durar ainda uns bons minutos, é acompanhada por estes aplausos que não diminuem o seu ritmo nem o seu volume, e as pessoas continuam de pé. Tinha-se finalmente quebrado o gelo. Visivelmente emocionada Ursula Rucker diz-se simplesmente sem palavras. Canta mais uma música e os aplausos fazem-na voltar para uns extras e a promessa de vir falar ao público no exterior da sala.
Os seus poemas falam de mulheres, de negros e brancos, da sociedade, das guerras. São muito claros, muito explícitos e combativos. Alguns são longas listas de artistas ou deuses ou injustiças. A música que acompanha a sua voz, um guitarrista e um baterista, é interessante, com alguns efeitos sonoros que enchem o palco. A voz de Ursula Rucker está cheia de força. Ela, sim, parece estar preparada para a revolução. E provavelmente já começou a fazê-la.
Cláudia Cardoso [29-03-2007], in http://coimbraenossa.blogspot.com/