31 outubro 2007

Obra de William Blake é tema de ciclo no TAGV

[Recorte-TAGV]

William Blake, Jerusalem (1820; pormenor da gravura 28). © The William Blake Archive.

Com um ciclo de programação/produção interdisciplinar dedicado a William Blake, o TAGV tem como objectivo celebrar e dar a conhecer um dos grandes artistas da humanidade.

O pretexto está, naturalmente, na passagem dos 250 anos sobre o nascimento de William Blake, mas a motivação do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) para promover todo um ciclo interdisciplinar à volta do autor inglês está, sobretudo, na intenção de "celebrar e dar a conhecer de forma alargada a obra de um dos grandes artistas da humanidade". Isto mesmo ficou claro, ontem, numa conferência de imprensa em que Manuel Portela – ele mesmo um dos estudiosos portugueses de referência da obra de Blake, sobretudo na área da tradução –, se fez acompanhar por José Geraldo, da Associação Camaleão, e Mário Montenegro, da Marionet, duas entidades chamadas à produção de duas obras a partir de Blake nas áreas do teatro/música e do teatro/multimédia.

A integrar exposições, música, multimédia, teatro, cinema, debates e rádio, o ciclo "Blake no TAGV", com concepção e programação de Manuel Portela, director da sala da Universidade de Coimbra, tem início agendado para o próximo dia 6 de Novembro, com a abertura das mostras "7 visões de William Blake", que integra a participação de Pedro Pousada, Armando Azevedo, António Olaio, Emanuel Brás, Teresa Amaral, Gilberto Reis e o Atelier do Corvo; e "William Blake: Livros Iluminados", uma videoprojecção integral das páginas de 16 livros iluminados (1788 – 1820) do autor inglês, com uma obra extraordinária ("visionária" e "vanguardista" em muitos aspectos) nas áreas da gravação, da pintura e da poesia.

De acordo com Manuel Portela, com o ciclo "Blake no TAGV", o Teatro Académico de Gil Vicente pretende celebrar e dar a conhecer de forma alargada a obra de um dos grandes artistas da humanidade, no ano em que se completam 250 anos sobre o seu nascimento.

Entre criação e programação
Chamando a atenção para a colaboração da Rádio Universidade de Coimbra – para lá de todas as restantes – que fará ao longo de todo o ciclo a montagem e difusão de um conjunto de gravações, constituídas por traduções de poemas de William Blake e por composições musicais baseadas na sua obra, o responsável pelo TAGV, não deixou de salientar que, enquanto produção própria e exclusiva, "Blake no TAGV" representa também "um modelo de relação dialéctica entre criação e programação" que tem sido uma aposta da sala na medida do que tem sido possível com a sua realidade financeira.

Combinando várias disciplinas artísticas, o ciclo integra a estreia de duas co-produções do TAGV: "Uma Ilha na Lua", pela Camaleão, com a Orquestra Clássica do Centro, e "As Portas da Percepção", pela Marionet, cujos responsáveis – José Geraldo e Mário Montenegro – deixaram ao público a promessa de duas produções que constituem um grande "desafio".

Para Manuel Portela, no seu conjunto, a obra de William Blake "constitui uma verdadeira cosmogonia, que reescreve e recombina diferentes mitos da criação". Ao escrever, desenhar, gravar, imprimir, pintar e publicar, diz ainda o académico e director do TAGV, "William Blake tomou nas suas mãos todo o potencial simbólico do livro como máquina de criação e chamou a si o controlo do modo de produção tipográfico, num momento em que se acentuava a divisão do trabalho e se anunciava já a industrialização da imprensa". Mas, aos livros iluminados de Blake – o mesmo autor que inspirou o nome de uma das bandas rock mais emblemáticas do século XX, The Doors –, juntam-se ainda centenas de pinturas, desenhos e gravuras. Nos últimos 10 anos, acrescenta ainda Manuel Portela, a digitalização da sua obra tem construído "um espaço de leitura que permite olhar de forma renovada para a materialidade icónica do seu traço visionário, restituindo a integridade visual e literária dos originais".

Lídia Pereira, As Beiras [31 Outubro 2007]

30 outubro 2007

Ferloscardo (27 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]





Ferloscardo, TAGV, 27 Outubro 2007. Fotos de Celestino Gomes e José Balsinha.

A designação do género - «novo circo» - remete para o cruzamento entre disciplinas especificamente circenses e outras artes cénicas como o teatro, a dança e a música. Esta recontextualização cénica da acrobacia, do malabarismo ou do equilibrismo permite acrescentar uma dimensão simbólica, de tipo narrativo ou poético ou dramático, ao repertório de movimentos e posições do corpo, e ao jogo combinatório com os objectos. Foi este jogo gramatical que o espectáculo «Ferloscardo» nos propôs, enumerando os objectos e os movimentos, e a combinatória de acções possíveis: entre oito lâmpadas e dois corpos; entre dois braços e três bolas; entre duas cabeças e uma maça; entre dois pares de braços e duas, e depois três, e depois quatro, e depois cinco, e depois seis, e depois sete maças; entre dois aros e uma cabeça, entre quatro aros e duas cabeças; entre um aro e seis lâmpadas; entre 5 tijolos e dois pés e duas mãos e uma cabeça. Dados os elementos do discurso - as mãos, os pés, as cabeças, as testas, os narizes, os queixos, as bolas, os aros, as maças, os tijolos, as lâmpadas, o chapéu, o pião, as trajectórias de uns e de outros -, é preciso descobrir que frases é possível formar. Mas não apenas isso: também a música, sobretudo a música, ao fazer equivaler crescendos e diminuendos, escalas e silêncios, timbres e ritmos com a combinatória malabarística ou equilibrística pontua as frases dando densidade emocional à sua forma particular de coreografia. Uma coreografia que consiste em explorar a força da gravidade para produzir simetrias nos movimentos dos objectos e dos corpos movimentando-se para escrever as frases aéreas que braços e pernas devem enunciar. 5, 3, 3, 3, 4, 2, 3, 5, 2, 2, 1. Equilibradas nas notas do clarinete ou dos pratos, as lâmpadas podem tornar-se símbolos: estrelas, tochas, pirilampos. É essa a semelhança entre a invenção metafórica na linguagem e o malabarismo: tornar possível o improvável. Permitir dizer: «o pião rodopiou-me no braço», ou «o pião rodopiou-me na mão», ou «o pião rodopiou-me na cabeça». E saber que foi um acontecimento literal.
MP

26 outubro 2007

singing the art away (9 a 30 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]










António Olaio, singing the art away, TAGV, 9 a 30 Out 2007. Fotos MP (26-10-2007).

24 outubro 2007

Parede de segredos (23 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]

BARCA BELA

Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador!

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!

Almeida Garrett

«Parede de Segredos», TAGV, 23 e 24 Outubro 2007. Direcção artística: Berta Teixeira e Gonçalo Antunes de Azevedo. Intérpretes: Berta Teixeira e Eurico Lopes. Fotos de Celestino Gomes.

Richard Zenith com Fernando Pessoa no TAGV (11 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]

Richard Zenith no TAGV, 11 Outubro 2007. Foto de Martin Earl.

A última sessão de Máquinas de Escrever foi, em certa medida, mediúnica. Não porque Richard Zenith aceitasse a ideia de um acesso privilegiado aos processos criativos de Fernando Pessoa só porque o longo contacto com os manuscritos, dactiloscritos e envelopes da Arca lhe permitisse, de algum modo, fazer-se veículo do autor dos gatafunhos. Antes porque, colocando-se no papel de leitor, Zenith realizou exemplarmente a mediação que a leitura constitui ao tentar comunicar, digamos assim, com o espírito dos textos através dos sinais da letra. Uma letra que, no caso de Pessoa, contém no seu desenho particular um movimento recorrente de vai-e-vem da caligrafia - a bela letra - em direcção à criptografia - a letra secreta. Ler é, começa por ser, decifrar a letra, mas, uma vez decifrada, uma vez reconhecido o alfabeto nessa linha miudinha e inclinada, nesse fio ralo e interminável de laços e pontos, não há chave que permita voltar a decifrá-la. O intérprete tem de se mediar a si mesmo.


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa (27 Nov 1930)

Instado a descrever o processo criativo de Fernando Pessoa, Richard Zenith escolheu o poema «Autopsicografia», complexa arte poética sobre os mecanismos anti-expressivos de mediação que permitem falsificar a emoção verdadeira para produzir poesia. Estrofe a estrofe, foi estabelecendo relações com outros textos de Pessoa, e também com os ensaios de Edgar Allan Poe «A Filosofia da Composição» (1845) e de T.S. Eliot «A Tradição e o Talento Individual» (1919). Falou-nos, em particular, dos dispositivos de despersonalização, semelhantes ao processo de heteronímia, e da noção de correlato objectivo, que seria, segundo Eliot, a única forma de expressar emoção no objecto artístico. De acordo com esta noção, a projecção da emoção do sujeito na arte só pode ocorrer mediada através de objectos, de situações ou de acontecimentos, de carácter sensorial, que se tornem instrumento daquela emoção específica, de tal forma que, dada a presença desse correlato objectivo, a emoção possa ser evocada de imediato. Zenith sublinhou, a este propósito, a centralidade do leitor e do acto comunicativo como finalidade do acto artístico na concepção de escrita de Fernando Pessoa. Citou, a título de exemplo pessoano equivalente da comunicação por projecção objectiva, este passo do fragmento 260 do Livro do Desassossego de Bernardo Soares:

A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação. O que sinto, na verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e quanto mais profundamente o sinto, tanto mais incomunicável. Para que eu, pois, possa transmitir a outrem o que sinto, tenho que traduzir os meus sentimentos na linguagem dele, isto é, que dizer tais coisas como sendo as que eu sinto, que ele, lendo-as, sinta exactamente o que eu senti. E como este outrem é, por hipótese de arte, não esta ou aquela pessoa, mas toda a gente, isto é, aquela pessoa que é comum a todas as pessoas, o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus sentimentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza daquilo que senti.

Livro do Desassossego (2001), edição de Richard Zenith, pp. 255-256.

O exemplo que Bernardo Soares dá a seguir do sentimento humano típico comum é o da «saudade da infância perdida», que se dispõe a usar como catalizador da emoção que pretende despertar no leitor, ainda que esta evocação nada tenha que ver com o que sentiu. A descrição que imagina corresponde, de certo modo, à projecção nos objectos correlativos da emoção que deseja evocar:

Tenho a chave para a porta do meu tema. Escrevo e choro a minha infância perdida; demoro-me comovidamente sobre os pormenores de pessoas e mobília da velha casa na província; evoco a felicidade de não ter direitos nem deveres, de ser livre por não saber pensar nem sentir - e esta evocação, se for bem feita como prosa e visões, vai despertar no meu leitor exactamente a emoção que eu senti, e que nada tinha com a infância.
Livro do Desassossego (2001), edição de Richard Zenith, p. 256.


Citando um texto por si decifrado há pouco tempo (uma carta até agora inédita de Álvaro de Campos, escrita em francês e dirigida a Marinetti, c. 4 de Junho de 1915), Zenith referiu ainda outra dimensão da escrita de Fernando Pessoa: o facto de a sua experiência com a linguagem e com a escrita ser, também, uma experiência com o ser, com as possibilidades de ser contidas no acto artístico. O solipsismo sensacionista de Álvaro de Campos leva-o a escrever isto nessa carta aos futuristas:

O que é a arte? Ora, é apenas arte. Para mim, sou eu. Para vós - não para mim - seríeis vós, mas vós nunca sois vós, mas sim sempre o outro. Vós sacrificaste-vos à arte, quando não deveria haver outra arte, para vós, senão vós mesmos. O vosso esforço é um esforço abstracto, enlouquecido de devir...
Obra Essencial de Fernando Pessoa Vol. VII: Cartas (2007), edição de Richard Zenith, p. 115.


No fragmento 139 do Desassossego, é também evocada a possibilidade de coincidência entre vida e escrita. A escrita é a prótese intensificadora do estado de consciência da consciência, que parece constituir para o guarda-livros o atestado mental da existência do sujeito que nele habita, isto é, que mora na escrita que o produz, que o faz ser. Privado da escrita, este sujeito está condenado a durar, a dormir por detrás do trabalho, a respirar sem se sentir respirar. No momento da escrita, o discurso ensimesmado desse proto-ser, enovelado na concha do seu próprio pensamento, abre-se às sensações que os ouvidos e os olhos lhe trazem como efeito do despertar que intensifica a sensação no acto de despertar para si mesmo. É na presentificação de si perante si mesmo que a escrita se revela como correlata do acto de existir, aumentando a autopercepção de si e a autopercepção do mundo fora de si:

Há muito tempo que não escrevo. Têm passado meses sem que viva, e vou durando, entre o escritório e a fisiologia, numa estagnação íntima de pensar e de sentir. Isto, infelizmente, não repousa: no aprodecimento há fermentação.
Há muito tempo que não só não escrevo, mas nem sequer existo. Creio que mal sonho. As ruas são ruas para mim. Faço o trabalho do escritório com consciência só para ele, mas não direi bem sem me distrair: por detrás estou, em vez de meditando, dormindo, porém estou sempre outro por detrás do trabalho.
Há muito tempo que não existo. Estou sossegadíssimo. Ninguém me distingue de quem sou. Senti-me agora respirar como se houvesse praticado uma coisa nova, ou atrasada. Começo a ter consciência de ter consciência. Talvez amanhã desperte para mim mesmo, e reate o curso da minha existência própria. Não sei se, com isso, serei mais feliz ou menos. Não sei nada. Ergo a cabeça de passeante e vejo que, sobre a encosta do Castelo, o poente oposto arde em dezenas de janelas, num revérbero alto de fogo frio. À roda desses olhos de chama dura toda a encosta é suave do fim do dia. Posso ao menos sentir-me triste, e ter a consciência de que, com esta minha tristeza, se cruzou agora - visto com ouvido - o som súbito do eléctrico que passa, a voz casual dos conversadores joverns, o sussurro esquecido da cidade viva.
Há muito tempo que não sou eu.
Livro do Desassossego (2001), edição de Richard Zenith, pp. 156-157.


Mas a escrita que lhe permite inventar-se e outrar-se nessa invenção, revela-lhe também o buraco no centro dos signos, a loucura contida no vazio simbólico da linguagem, a impossibilidade dessa existência escrita do eu, como no fragmento 355:

Senti-me inquieto já. De repente, o silêncio deixara de respirar.
Súbito, de aço, um dia infinito estilhaçou-se. Agachei-me, animal, sobre a mesa, com as mãos garras inúteis sobre a tábua lisa. Uma luz sem alma entrara nos recantos e nas almas, e um som de montanha próxima desabara do alto, rasgando num grito sedas do abismo. Meu coração parou. Bateu-me a garganta. A minha consciência viu só um borrão de tinta num papel.

Livro do Desassossego (2001), edição de Richard Zenith, p. 325.


MP

22 outubro 2007

Plantei corações no meu jardim (20 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]


António Olaio & João Taborda, «Blaupunkt Blues» (2007), apresentado no TAGV a 20 Out 2007. António Olaio, video-exposição «singing the art away» (9 Out-30 Out 2007).

Nas canções de António Olaio & João Taborda, tal como nos seus videoclips, nada é em primeira mão. As notas da guitarra, ou das teclas, ou da voz, não são sons que saiam directamente dos instrumentos que os produzem. Ou antes: saem da guitarra e das teclas e da voz, mas é como se não fosse exactamente daquelas cordas, daquele teclado ou daquela boca. Surgem sempre mediados por outros sons e por outras palavras: são sons em segundo grau e palavras em segundo grau. Só por desatenção se pode julgar que há nestas canções e nestes videos qualquer espécie de referência ao real fora daquela mediação. Não há. A utilização de formas visuais abstractas, de cores saturadas e da própria escrita das palavras nos videoclips acentua esse ensimesmamento da canção como objecto abstracto, descarnado de qualquer possibilidade de conteúdo afectivo ou referencial.

Que António Olaio nos apresente em português a letra em inglês, que olhe para a projecção na cortina antes de cantar ou, às vezes, enquanto canta, dá-nos essa objectivação anatómica da forma da canção que o duo consegue fazer. Até quando se reconhece uma reverberação de Sonic Youth num acorde da guitarra, ou um eco de David Thomas num trejeito da voz, já quase nada sobra de referencial nessa citação. As próprias citações parecem impossíveis de fazer quando a canção se tornou num dispositivo combinatório quase abstracto. É essa consciência da distância dos signos relativamente ao real que permite às letras de António Olaio revelarem até que ponto a significação é uma imposição arbitrária de sentido.

António Olaio & João Taborda no TAGV, 20 Out 2007. Fotos de mArio henriques.

Invertendo a ordem da representação - revelando o real na linguagem como um produto do discurso que cria associações privilegiadas entre os signos -, as letras perderam qualquer crença naïf na possibilidade de representarem o que quer que seja fora de si mesmas. Por isso a sua ordem de sentido é completamente interna, culminando (ou antes, desculminando, uma vez que a sua estratégia é o anti-clímax) nas imagens paradoxais e absurdas de quem se vê literalmente morto pelos próprios pés (cf. «my feet are killing me»). Neste jogo, os próprios movimentos das mãos e do corpo do cantor, os seus passos no palco, constituem um eco fantasma de uma coreografia em segundo grau, isto é, de um modo de cantar e de dançar, de se fazer actuar, que não pode ser senão indirecto. Uma espécie de performance sonâmbula de quem não quer ser outro senão ele próprio (cf. «sleepwalker»), mas ao mesmo tempo sabe que consegue ver tudo menos a si próprio (cf. «invisible»). É o próprio eu que parece ser irrepresentável na canção: a sua invisibilidade é consequência da impotência mimética da linguagem, transfigurada aqui em canção monocromática saturada de signos musicais e artísticos.
MP

21 outubro 2007

António Olaio e João Taborda (20 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]


António Olaio & João Taborda, TAGV, 20 Out 2007. Fotos de Celestino Gomes.

16 outubro 2007

Novidades da Cinematografia Francesa no TAGV

[Notícia-TAGV]

8ª Festa do Cinema Francês. Entre 15 e 19 de Outubro no TAGV.

Segunda 15/10
21h30.
La Vie Privée, de Zina Modiano
23h30.
Cœurs, de Alan Resnais

Terça 16/10
19h
. La Naissance des Pieuvres, de Céline Sciamma
21h30.
Mauvaise Foie, de Roschdy Zem
23h30. Anna M., de Michel Spinosa

Quarta 17/10
10h30. Serko, de Joël Farges
19h.
Nue Propriété, de Joachim Lafosse
21h30. Avida, de
Benoît Delépine e Gustave Kervern
23h30. L'Avocat de La Terreur
, de Barbet Schroeder

Quinta 18/10
19h. L'Invité, de Laurent Bouhnik
21h30.
Ensemble, C'est Tout, Claude Berri
23h30.
Gradiva, Alain Robbe-Grillet

Sexta 19/10
17h.
Dialogue Avec Mon Jardinier, de Jean Becker
19h.
Michou d'Auber, de Thomas Gilou
21h30. Je Crois Que Je L'aime, de Pierre Jolivet
23h30. Les Chansons d'Amour, de Christophe Honoré

12 outubro 2007

Teatro Bruto no TAGV (10 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]




Teatro Bruto, Corações em Ferrugem, a partir de textos de Ondjaki, com encenação de Luciano Amarelo. Interpretação de Kristin Fredricksson, Luciano Amarelo e Nuno Preto. Fotos de mArio henriques.

11 outubro 2007

Corações em Ferrugem (10 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]



Teatro Bruto, Corações em Ferrugem, TAGV, 10 Out 2007, a partir de textos de Ondjaki, com encenação de Luciano Amarelo. Interpretação de Kristin Fredricksson, Luciano Amarelo e Nuno Preto. Fotos de Celestino Gomes.

08 outubro 2007

Blake no TAGV (06 a 28 de Novembro de 2007)

[Notícia-TAGV]

Cartaz do ciclo de programação «Blake no TAGV». TAGV, 06-28 Nov 2007. Design de Joana Monteiro.

Com o ciclo «Blake no TAGV», o Teatro Académico de Gil Vicente pretende celebrar e dar a conhecer de forma alargada a obra de um dos grandes artistas da humanidade, no ano em que se completam 250 anos sobre o seu nascimento. «Blake no TAGV» constitui um ciclo interdisciplinar, que abrange de forma integrada a maior parte das áreas de programação do Teatro: exposições, teatro, música, multimédia, cinema e debates. Contamos ainda com a colaboração da Rádio Universidade de Coimbra na montagem e difusão de um conjunto de gravações, constituídas por traduções de poemas de William Blake e por composições musicais baseadas na sua obra. Enquanto produção própria e exclusiva, «Blake no TAGV» representa também um modelo de relação dialéctica entre criação e programação. Trata-se de uma iniciativa que combina várias disciplinas artísticas, integra a criação local na programação e, ao mesmo tempo, realiza a dimensão especificamente universitária do TAGV, mobilizando um conjunto de saberes científicos e artísticos. No âmbito deste ciclo serão estreadas duas co-produções do TAGV: «Uma Ilha na Lua», pela Camaleão com a Orquestra Clássica do Centro, e «As Portas da Percepção», pela Marionet. A natureza multimédia da obra de William Blake (1757-1827) poderá assim ser objecto de ressignificação e releitura cénica na era digital.

No seu conjunto, a obra de William Blake constitui uma verdadeira cosmogonia, que reescreve e recombina diferentes mitos da criação. Ao escrever, desenhar, gravar, imprimir, pintar e publicar, William Blake tomou nas suas mãos todo o potencial simbólico do livro como máquina de criação e chamou a si o controlo do modo de produção tipográfico, num momento em que se acentuava a divisão do trabalho e se anunciava já a industrialização da imprensa. Além dos poemas proféticos em manuscrito Tiriel (c. 1789), The French Revolution (1791) e The Four Zoas (c. 1795-1804), a sua obra inclui os seguintes livros iluminados: All Religions are One (c. 1788), There is No Natural Religion (c. 1788), Songs of Innocence (1789), The Book of Thel (1789), The Marriage of Heaven and Hell (1790), Visions of the Daughters of Albion (1793), For Children: The Gates of Paradise (1793), America a Prophecy (1793), Europe a Prophecy (1794), Songs of Innocence and of Experience (1794), The First Book of Urizen (1794), The Book of Los (1795), The Song of Los (1795), The Book of Ahania (1795), Milton A Poem (1811) e Jerusalem: The Emanation of the Giant Albion (1820). Aos livros iluminados juntam-se ainda centenas de pinturas, desenhos e gravuras. Nos últimos dez anos, a digitalização da sua obra tem construído um espaço de leitura que permite olhar de forma renovada para a materialidade icónica do seu traço visionário, restituindo a integridade visual e literária dos originais.
MP

07 outubro 2007

Tim Hecker (06 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]



Tim Hecker, ciclo «Senses» (2ª edição), TAGV, 6 Out 2007. Fotos de Celestino Gomes.

06 outubro 2007

Tim Hecker ao vivo no TAGV

[Arquivo-TAGV]


A apresentação de Tim Hecker no TAGV permitiu constatar que, tal como outros criadores que actuaram integrados no Ciclo Senses, também ele desenvolve um trabalho teórico sobre a música, como se apenas as questões do intelecto o interessassem. No entanto, é absolutamente inegável a densidade e profundidade que a sua obra musical cria entre corpo e espírito. Na sua tentativa de intersectar áreas tão distantes como o noise e o barroco, consegue provocar uma dimensão física e emotiva a que o espectador não consegue ficar indiferente.

Tim Hecker no TAGV. Ciclo Senses. 06.10. 2007. Fotos de mArio henriques.

Em constante progressão, os ritmos são minimais e inspirados criando atmosferas expansivas que fazem lembrar encontros utópicos entre os princípios minimalistas de Steve Reich ou Tony Conrad e a obra barroca de Bach. Simultaneamente, leveza e densidade. Ruído e candura. Primavera e Outono. Mas, com a absoluta certeza de que a forma como se processa a criação será sempre assunto secundário quando comparado com o resultado final. Como se aquilo que verdadeiramente interessasse não fosse a obra acabada, mas sim o processo dinâmico que deixa em aberto a hipótese de procura de novos sentidos para uma música criada a partir da ideia de fontes tão díspares.
PDS

Videomemória TAGV

[Arquivo-TAGV]


Carlos Bica nos V Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra (1ª parte), TAGV, 01 Junho 2007: registo da ESEC TV.

05 outubro 2007

Sérgio Godinho no TAGV 2 (03 Out 2007)

[Arquivo-TAGV]





Sérgio Godinho, Ligação Directa, Grandes Concertos TAGV, 03 Outubro 2007. Fotos de Celestino Gomes.