31 março 2008

Ópera Madame Butterfly (30 MAR 2008)

[Arquivo-TAGV]





Madame Butterfly, pela Ópera Estatal de Ekaterimburgo.
TAGV 30.03.2008. Fotos de José Balsinha.

28 março 2008

Hiper-realismo escandinavo

[Notícia-TAGV]

SEXUALIDADES/EN SOAP, de Pernille Fischer Christensen
[Suécia, Dinamarca, 2006, 104’, M/16]
Urso de Prata - Grande Prémio do Júri e
Melhor Primeira Obra do Festival de Cinema de Berlim em 2006.
Cinema no TAGV, 31 de Março de 2008, 21h30m

Aos 32 anos, se o quisesse, Charlotte podia ter tudo na vida. Mas não quer. Quando sai de casa do namorado, torna-se a vizinha de cima de Verónica, um transexual. Verónica prefere ficar em casa sozinha com o seu cachorro, a ver novelas na televisão, enquanto Charlotte passa as noites com parceiros de ocasião. Um assalto, uma cama nova e umas cortinas brancas juntam estes dois seres, que acabam por protagonizar uma atribulada história de amor.

«A estreia da dinamarquesa Pernille Fischer Christensen (…) faz uso da previsibilidade da estrutura de base, com todas as lágrimas e tensão sexual que se exige, para contar, através de bons diálogos e boas personagens, uma relação de amor entre pessoas que vivem fora das convenções».
Rita, http://cinerama.blogs.sapo.pt

Berlim (27 MAR 2008)

[Arquivo-TAGV]






Berlim pelo Teatro da Comuna. Versão cénica e encenação de João Mota,
a partir de texto de Gonçalo M. Tavares. Fotos: Celestino Gomes
[TAGV. 27.03.2008]

27 março 2008

Mensagem do Dia Mundial do Teatro 2008

[Notícia-TAGV]

Auditório do Teatro Académico de Gil Vicente © João Armando Ribeiro

Robert Lepage, actor, encenador e dramaturgo canadiano é o autor da Mensagem para o Dia Mundial do Teatro 2008.

"Existem várias hipóteses sobre as origens do teatro, mas aquela que me interpela mais tem a forma de uma fábula:
Uma noite, na alvorada dos tempos, um grupo de homens juntou-se numa pedreira para se aquecer em volta de uma fogueira e para contar histórias. De repente, um deles teve a ideia de se levantar e usar a sua sombra para ilustrar o seu conto.
Usando a luz das chamas ele fez aparecer nas paredes da pedreira, personagens maiores que o natural. Deslumbrados, os outros reconheceram por sua vez o forte e o débil, o opressor e o oprimido, o deus e o mortal. Actualmente, a luz dos projectores substituiu a original fogueira ao ar livre, e a maquinaria de cena, as paredes da pedreira.
E com todo o respeito por certos puristas, esta fábula lembra-nos que a tecnologia está presente desde os primórdios do teatro e que não deve ser entendida como uma ameaça, mas sim como um elemento unificador.
A sobrevivência da arte teatral depende da sua capacidade de se reinventar abraçando novos instrumentos e novas linguagens. Senão, como poderá o teatro continuar a ser testemunha das grandes questões da sua época e promover a compreensão entre povos sem ter, em si mesmo, um espírito de abertura? Como poderá ele orgulhar-se de nos oferecer soluções para os problemas da intolerância, da exclusão e do racismo se, na sua própria prática, resistiu a toda a fusão e integração?
Para representar o mundo em toda a sua complexidade, o artista deve propor novas formas e ideias, e confiar na inteligência do espectador, que é capaz de distinguir a silhueta da humanidade neste perpétuo jogo de luz e sombra.
É verdade que a brincar demasiado com o fogo, o homem corre o risco de se queimar, mas ganha igualmente a possibilidade de deslumbrar e iluminar."
Robert Lepage

26 março 2008

Berlim, pelo Teatro da Comuna, no Dia Mundial do Teatro no TAGV

[Arquivo-TAGV]



Cenário da peça Berlim pelo Teatro da Comuna.
Versão cénica e encenação de João Mota, a partir de texto de Gonçalo M. Tavares. Elenco: Álvaro Correia, João Tempera, Mariana Filipa, Judite Dias, Tânia Alves, Marco Paiva, Miguel Sermão, Jorge Andrade e Alexandre Lopes.
Música original e contrabaixo: Miguel Leiria Pereira.
Em cena no Dia Mundial do Teatro no TAGV (Quinta-Feira, 27 de Março).
Fotos: mArio Henriques [TAGV. 26.03.2008]

25 março 2008

E DEPOIS DO ADEUS

[Recorte-TAGV]


Foi com consternação que recebemos a notícia do pedido de demissão do cargo de Director Artístico do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), apresentado pelo Prof. Dr. Manuel Portela. Apesar de conhecermos as dificuldades e os obstáculos que se apresentavam, quotidianamente, a quem tinha assumido de forma corajosa a ingrata e exigente tarefa de gerir e programar a única sala de espectáculos que a cidade de Coimbra conhece, sempre fomos alimentando a esperança de poder continuar a contar com Manuel Portela à frente dos destinos do TAGV, dada a sua invulgar capacidade de trabalho e notável resistência face às inúmeras contrariedades que se lhe colocaram no exercício das suas funções.

No decurso do seu breve mandato, foi introduzida uma estratégia e dinâmica programáticas que, de forma coerente e estruturada, imprimiram ao TAGV um rumo crescentemente consistente, uma prática e metodologias exemplares e um espaço próprio, multicultural e multidisciplinar, de afirmação na vida cultural da cidade. Com efeito, e apesar das condições orçamentais adversas, “o TAGV lançou nos últimos dois anos um conjunto significativo de projectos com o objectivo de se aproximar gradualmente de instituições congéneres de referência, a nível nacional e internacional(…).O TAGV instituiu ainda um programa sistemático de apoio à criação teatral local, no âmbito do qual foram estreadas 18 novas produções desde Março de 2006 – o maior conjunto de estreias consecutivas (fora de festivais) na sua história recente. Estas estreias resultaram de parcerias estabelecidas com mais de uma dezena de associações de criação artística local. O TAGV reforçou igualmente a educação artística, através de uma programação educativa regular, na qual tomaram parte, só na última temporada, cerca de 11 mil crianças e jovens de uma centena de instituições de todos os níveis de ensino – no que constitui também a maior e mais sustentada tentativa na sua história recente de instituir uma programação educativa.

Além disso, aumentou significativamente o número de iniciativas próprias, com mais de uma dezena de ciclos originais de programação em 2006-2007 e 2007-2008: nos domínios do livro e da leitura («escrileituras», «máquinas de escrever», «escaparate», «Os Livros Ardem Mal»); do teatro («estreias-TAGV»), do cinema («Segundas TAGV», «Doc TAGV», etc.); da música («A Cor do Som: Recitais e Concertos TAGV», «Senses: Música Electrónica e Multimédia»); e das exposições («Teatro a Arquitectura», «Teatro e Cenografia»). Organizou ou co-organizou diversos debates de relevância pública local e nacional. A tudo isto acrescem os festivais anuais, como o «Coimbra em Blues» e, em acolhimento, os «Caminhos do Cinema Português», a «Festa do Cinema Francês» e os «Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra». A estatística da temporada 2006-2007 registou 405 realizações (das quais 288 utilizações do auditório), o que torna o TAGV numa das instituições mais produtivas entre as suas congéneres a nível nacional. Este conjunto de iniciativas representa, além do mais, a primeira tentativa de estruturar toda a programação do TAGV à escala da temporada”.

É pois com um sentimento de sincero agradecimento e de reconhecimento pelo trabalho de excelência que realizou, que prestamos desta forma simples mas autêntica a nossa solidariedade para com o demissionário Director do TAGV que, com escassos meios e apertados recursos (operando por vezes verdadeiros milagres), soube também compreender e implementar uma verdadeira política de acolhimento e apoio à criação artística, viabilizando dessa forma a apresentação de projectos locais. Citando as suas palavras, “O crescimento intelectual e artístico, do público e dos criadores, depende do exercício constante. A colaboração estabelecida entre o TAGV e os artistas deve permitir cimentar as relações entre produtores e receptores na cidade de Coimbra. A possibilidade de aumentar a qualidade dramatúrgica, cenográfica e de interpretação depende de uma actividade continuada e de um processo contínuo de crítica e de recepção pública. Sem esta actividade constante dificilmente se criam as condições de produção e recepção para consolidação das práticas, para invenção de formas, para a qualidade da escrita e do espectáculo, e, em última análise, para produzir formas artísticas capazes de revelar o que somos e o mundo em que vivemos”.

Lamentavelmente o nosso país persiste na sua vocação suicidária em ignorar aqueles que, justamente, mais se notabilizam pela seriedade, rigor e inteligência da sua actuação, não lhes atribuindo os meios e os recursos necessários que permitam alcançar um patamar de exigência, de qualidade e de dignidade.

O TAGV perde assim um grande Director. A cidade, que já triste e abandonada culturalmente se encontrava, corre o risco de adormecer de vez.

Coimbra, 24 de Março de 2008

A Marionet
Associação Cultural de Música e Teatro Arte à Parte
Associação Penetrarte
Camaleão - Associação Cultural
Encerrado para Obras – Associação Cultural e Artística
Margarida Mendes Silva
Projecto BUH!

24 março 2008

Concerto RUC: The Legendary Tiger Man+Terry Lee Hale (20.03.08)

[Arquivo-TAGV]



Concerto de Aniversário da Rádio Universidade de Coimbra.
TAGV 20.03.2008. Fotos de Celestino Gomes.





Terry Lee Hale.
Concerto de Aniversário da Rádio Universidade de Coimbra.

TAGV 20.03.2008. Fotos de Celestino Gomes.

22 março 2008

O nascimento de uma nação

[Notícia-TAGV]

NOMAD – A PROFECIA DO GUERREIRO,
de Sergei Bodrov, Ivan Passer, Talgat Temenov
[Cazaquistão, França, 2005, 112’, M/12]
Cinema no TAGV, 24 de Março de 2008, 21h30m

Cazaquistão, século XVIII. Várias tribos nómadas percorrem a imensidão do país, mas a paz é frágil e um inimigo comum ameaça trai-los. Anunciado por uma profecia, o nascimento de Mansur, descendente do poderoso Gengis Khan, parece ser a única hipótese para unir os clãs. No entanto, quando Galdan, o líder dos inimigos Jungar, ouve falar dessa criança, decide eliminá-la. Só a intervenção de Oraz, um corajoso guerreiro cazaque, pode oferecer-lhe protecção para que assim se cumpra a profecia…

Coimbra em Blues - Os Sacerdotes e Os Acólitos

[Recorte-TAGV]

Os blues são uma religião estranha. Uma religião em que se encontram, ou se encontraram, se cruzam, ou se cruzaram, feiticeiros africanos das margens do Niger, xâmanes de voodoo, pastores evangélicos do Mississippi, pregadores lunáticos do fim do mundo e dos vários graus do pecado... e de todo mal que se pode encontrar em casa ou no fundo de uma garrafa. Pactos faustianos, relatos de sessões de sexo contra a parede ou histórias de crimes sangrentos e de traições amorosas fazem parte dos evangelhos do género. Aliás, como de quase todos os outros evangelhos conhecidos.

E, na sexta edição do Coimbra em Blues, no Gil Vicente, houve sacerdotes - e até uma sacerdotiza - de variadíssimas tendências dos blues, uns blues que se podem encontrar em todo o lado: dos Estados Unidos a Portugal, de África a Inglaterra. E para a primeira celebração, a abrir o festival, veio da América o lendário guitarrista Gary Lucas que, juntamente com os Dead Combo - os primeiros acólitos valorosos dos muitos que se seguiriam -, deu um concerto inesperado e fabuloso: com as guitarras de Lucas em primeiro plano (principalmente quando ele se atirava a solos na sua guitarra-dobro National) e a guitarra de Tó Trips e o contrabaixo de Pedro Gonçalves a acompanhar, os blues tomaram uma dimensão diferente e fizeram-se muitas outras músicas, soando por vezes a Carlos Paredes em ácidos, de outras a Morricone em transe índio, de outras ainda a Jeff Buckley sem a voz (e aqui já era mais fácil ter essa sensação: Gary Lucas e os Dead Combo interpretaram dois temas co-compostos por Lucas com Jeff Buckley: «Mojo Pin» e «Grace»).

Na segunda noite, a dupla inglesa de cantores e guitarristas Steve Morrison e Billy Jenkins deu outro espectáculo fantástico, com Jenkins a servir de sacerdote - ele é o padre que benze o público no início do espectáculo, ele é o guitar-hero frenético, ele é o cantor da voz profunda e grave e por vezes assustadora - e Morrison de acólito perfeito - ele é o contraponto de suavidade, de calma e lirismo. E os dois, separados ou em uníssono, resultam incrivelmente bem. Uma ligação que, infelizmente, não aconteceu no concerto seguinte, o dos Afrissippi, projecto que junta o cantor e guitarrista (semi-senegalês, semi-mauritano) Guelel Kumba com vários músicos norte-americanos, todos eles em busca das raízes dos blues algures na zona mandinga. Raízes que estão lá - e basta ouvir Ali Farka Touré, os Tinariwen ou Afel Bocoum... - mas que aqui, nos Afrissippi, soam mais a tese do que a música verdadeira. Kumba canta em fulani, a sua música é feita de muitas músicas antigas africanas, as pontes com os blues estão lá, bem nítidas, mas os acólitos puxam sempre aquilo para os blues-mesmo-blues e há ali quase sempre uma certa sensação de artifício e de união mal resolvida.

Mas se, nos Afrissippi, o artifício incomoda, o mesmo artifício é incrivelmente bem-vindo no concerto que abre a noite seguinte: o de Ruby Ann (ela que, em Coimbra, liderava os Boppin'Boozers), cantora e compositora portuguesa agora radicada em Paris. Sacerdotiza, patroa, pin-up e excelente entertainer, Ruby Ann e os seus fantásticos músicos serviram um festim de blues, rock'n'roll, rockabilly, country, vaudeville, tudo junto ou separado, e até uma versão de um tema de Patsy Cline. A festa estava lançada. Uma festa que continuaria, em grande, com o cantor e muitíssimo bom guitarrista - ele, que constrói as suas guitarras, seja um «guinjo», mistura de banjo com guitarra eléctrica, ou uma guitarra de lata feita a partir de uma caixa de tabaco - Super Chikan. Viajando por várias frentes dos blues - das mais clássicas aos seus cruzamentos com o rock (ele raiou os limites do... heavy-metal!) ou do funk (ele raiou os limites do... disco-sound!), e muitas vezes em distorções hendrixianas, Chikan deu um espectáculo memorável, festivo, incrivelmente bem-disposto e onde foi muito bem acolitado por uma teclista incendiária e um inesperado convidado na harmónica: um rapaz francês branquinho que toca aquilo como se tivesse nascido no sul dos Estados Unidos e fosse mais negro que o carvão. Inesquecível!
António Pires, blog RAÍZES E ANTENAS, 17.03.2008

20 março 2008

MiamiLuanda (19 MAR 2008)

[Arquivo-TAGV]



MIAMILUANDA. Coreografia de Vânia Gala.
TAGV 19.03.2008. Fotos: Pedro Medeiros.

18 março 2008

MIAMILUANDA

[Arquivo-TAGV]

Cartaz MIAMILUANDA.
Desenho Gráfico: Joana Monteiro/Fotografia: Pedro Medeiros.

Estreia absoluta de MIAMILUANDA, uma coreografia de Vânia Gala.
TAGV, 19.03.08, 21h30.

17 março 2008

TAGV

[Arquivo-TAGV]






Fotos de Pedro Dias da Silva (Novembro 2006), Celestino Gomes (Junho 2007), Maria Miguel Ferrão (Julho 2006) e mArio henriques (Junho 2007); e fotograma de A Noiva-Cadáver (Abril 2007).

Começa-se sem se saber que se começa. Ou sequer o que se começa. Ou talvez seja mais exacto dizer-se que alguma coisa começa em nós. E, a partir de um certo momento, que não se consegue precisar, é esse começo inadvertido que nos move numa direcção que não conseguimos antever. Como um programa cujo código gerasse não apenas as nossas acções mas os pensamentos que lhes sucedem. E nesse estado de possessão, que nos desapossa de nós mesmos, agimos impelidos por esse começo que começou em nós. Do código do começo, do programa de instruções que intimamente se desenrola quase independentemente da vontade, faz parte o esquecimento do começo. Do momento e da forma do começo. E depois é como se o começo não tivesse começado. E o estado em que por acaso nos encontramos estivesse fora de qualquer começo e fosse apenas a continuação de si mesmo. Continua-se como se não tivesse havido começo. É como se a continuação fosse o próprio esquecimento do começo. E nesse estado de continuação, e de desejo de continuação, que produz o esquecimento do começo, é como se aquilo que um dia começou não fosse da ordem do começo. E existisse apenas nesse estado inadvertido de continuação. Nesse estado incomeçado que nos move numa direcção que não conseguimos antever. E continuamos. Continuamos sempre. Continuamos como se não estivéssemos a continuar. Como se o estado de continuação fosse independente do começo. Da continuação do começo. E da continuação da continuação. Mas o código do começo, que apaga o começo do começo e nos faz continuar como se não tivesse havido começo, contém também o código do fim. Do fim desse começo sem começo e dessa continuação sem começo nem continuação. E, um dia, nessa sombra pressentida do começo, inadvertidamente recordado, a continuação revela-se por fim como continuação, como continuação do começo, do começo do começo, e do fim do começo, e como fim da continuação, da continuação da continuação, e como começo do fim. E acaba-se sem se saber que se acaba. Ou sequer o que se acaba. Ou talvez seja mais exacto dizer-se que alguma coisa acaba em nós. E, a partir de um certo momento, que não se consegue precisar, é esse fim inadvertido que nos move numa direcção que não conseguimos antever. Como um programa cujo código gerasse não apenas as nossas acções mas os pensamentos que lhes sucedem. E nesse estado de possessão, que nos desapossa de nós mesmos, agimos impelidos por esse fim que começou em nós.
MP (Director do TAGV, 13 Julho 2005-17 Março 2008)

Instantâneos Coimbra em Blues 2008

[Arquivo-TAGV]

Gary Lucas. Camarins TAGV. 13.03.08.
Foto: José Balsinha

Pedro Gonçalves (Dead Combo).
Camarins TAGV. 13.03.08.

Foto: José Balsinha

Blues são mais festivos na hora da despedida

[Recorte-TAGV+Arquivo-TAGV]

Na despedida da sexta edição do Coimbra em Blues, Ruby Ann e Super Chikan deram ao festival aquilo que faltara até agora: o clima de festa.


Não é novidade nenhuma que se for pedido a qualquer um de nós para explicar o que são os blues a uma criança ou a um marciano, o exigível é que se comece por falar de uma música rural, nascida no sul dos Estados Unidos, nas margens do Mississipi e tendo como protagonistas trabalhadores que ganhavam a jorna à conta da força de braços.

A primeira e mais duradoura impressão é a de uma música acústica que equivale a um belíssimo lamento, que põe sal nas feridas abertas deixadas por uma mulher que partiu ou por uma mulher que partiu. A segunda destas hipóteses equivalia, no entanto, frequentemente, à forma oficial para falar do patrão que era um sacana e que nunca desconfiaria estar a ser travestido pelo seu empregado.

Super Chikan
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 15.03.2008. Foto: Celestino Gomes

Seja como for, tudo se resumia a à expressão de um coração em agonia. Ponto assente. Perante esta imagem feita, é por isso reconfortante assistir a um concerto eléctrico (Chicago veio mudar os quadros rurais do delta do Mississipi) como o de Super Chikan, a encerrar a sexta edição do festival Coimbra em Blues.

Durante hora e meia, o sorriso nunca o deixou sozinho e a estonteante energia que espalhou por toda a sala dificilmente deixaria adivinhar os 57 anos que carrega consigo. O público nem procurou resistir e logo se deixou contagiar por uma noção clara de que o palco foi feito para trazer alegria ao mundo.

Musicalmente, Super Chikan – sim, é verdade, ele cacareja mesmo e acaba todas as músicas com a frase «somebody shoot that thing!» – não é a criatura mais original que já pegou numa guitarra. Corre atrás dos exemplos de John Lee Hooker, Jimi Hendrix e (no que toca aos movimentos e à atitude) James Brown e não se lhe detecta nenhum grande contributo para a História dos blues.


Super Chikan
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 15.03.2008. Foto: Celestino Gomes

Mas é uma criatura que faz das guitarras mais originais que existem, com as suas próprias mãos. No concerto, contou que se habituou a nunca deitar nada fora e apresenta uma das suas criações: uma guitarra feita a partir de uma velha ventoinha de tecto, cravada de lantejoulas, brilhantes ou lá o que eram todas aquelas cores, como todos os seus outros exemplares. As três mulheres que o acompanham em palco não deixam desamparada a sua agitação constante e a teclista Laura Craig, em particular, a toda a hora parece possuída por um espírito com bicho-carpinteiro. Fez-se a festa e houve inclusivamente uns quantos corajosos que foram dançar para a frente do palco.

Ruby Ann.
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 15.03.2008. Foto: Celestino Gomes

Mas esses corajosos apareceram ainda durante a actuação anterior, da filha da terra Ruby Ann. Acompanhada por uma excelente banda (onde se destacou o guitarrista francês Gautier Golab), desviou-se do registo dos blues e proporcionou uma viagem no tempo, até à década de 1950 norte-americana, graças a uma superior interpretação de temas onde o rockabilly intersecta a country.

Ruby Ann.
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 15.03.2008. Foto: Celestino Gomes

Da imagem às canções, Ruby Ann é a versão perfeita de Wanda Jackson em solo português. Da boca também lhe saiu Patsy Cline e o agradecimento à organização e ao director artístico do festival (Paulo Furtado, dos WrayGunn) a oportunidade de voltar a tocar em casa.

Para o ano há mais, espera-se, deste belo festival.

Gonçalo Frota, www.sol.pt

16 março 2008

A solidão de Koistinen ou a nossa?

[Notícia-TAGV]

LUZES NO CREPÚSCULO, de Aki Kaurismäki
[Finlândia, Alemanha, França, 2006, 78’, M/16]
Cinema no TAGV, 17 de Março de 2008, 21h30m

"Luzes no Crepúsculo" conclui a trilogia iniciada por "Nuvens Passageiras" e "Um Homem sem Passado" e tem por tema a solidão. O protagonista, um homem chamado Koistinen, procura num mundo impiedoso uma pequena brecha pela qual possa rastejar. No entanto, quer os seus semelhantes quer o aparato de uma sociedade sem rosto fazem questão de sistematicamente esmagar as suas modestas esperanças. Ludibriado por um grupo de criminosos, que explora a sua ânsia por amor e o seu emprego como guarda-nocturno, vê-se subitamente abandonado à sua sorte, sem emprego, liberdade ou sonhos.

Ruby Ann e Super Chikan (Ensaios) [15 MAR 08]

[Arquivo-TAGV]

Ruby Ann durante o ensaio de som.
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 15.03.2008. Fotos: José Balsinha.

Super Chikan durante o ensaio de som.
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 15.03.2008. Fotos: José Balsinha.

David Lynch e blues africanos

[Recorte-TAGV+Arquivo TAGV]

Na segunda noite do festival de blues de Coimbra, lugar à loucura de Billy Jenkins e às raízes de Guelel Kumba.

Há meia dúzia de anos, o realizador mais demente do cinema actual, David Lynch, editou um disco de blues chamado «Bluebob». Por isso, também ele poderia andar por estes dias a pisar o palco do Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra.

E, de uma forma indirecta, talvez não tenha andado muito longe. O primeiro concerto da noite de ontem, uma colaboração entre os ingleses Steve Morrison e Billy Jenkins (que se conheceram precisamente em Coimbra), teve nos dois pratos da balança: uma soberba demonstração técnica de como colocar os dedos em cima das cordas da guitarra e uma valente dose de humor que deu ao concerto uma aura de espectáculo maior.

A toda a hora, olha-se para Jenkins e vê-se o protagonista de «Eraserhead – No Céu Tudo É Perfeito», o filme mais bizarro da mente labiríntica de Lynch.

Steve Morrison & Billy Jenkins.
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 14.03.2008. Foto: Celestino Gomes.

Assim que o concerto tem início, Jenkins vem para a boca do palco. O ar alucinado casa do músico na perfeição com a oração de louvor aos blues que vai acompanhando com um copo de água atirada para o público como se fosse benta.

Em três tempos estamos na igreja dos blues, onde segundo o próprio é proibido «ser como esses gajos do jazz que fazem mais de três acordes». As gargalhadas arrancam e marcarão o resto da noite.

Durante o concerto, tal como tinha feito na sua anterior passagem por Coimbra, Jenkins chega a impedir o seu companheiro de palco de fazer um solo de harmónica, diz adorar a cidade de Coimbra a partir do momento em que os estudantes desaparecem da vista, canta e uiva numa voz arranhada que pediu emprestada a Tom Waits e percorre a guitarra a uma velocidade vertiginosa. Mas nunca se estampa. Quer no humor, quer na música.

Steve Morrison & Billy Jenkins.
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 14.03.2008. Foto: Celestino Gomes.

A seu lado, Morrison marca pontos pela discrição, por dar a sensação de que jamais terá falhado uma única nota na sua vida. Cada vez que ataca as cordas parece que trata a música como ciência exacta (elogio), como se não houvesse outra nota a poder ocupar o lugar daquela que elege. A dupla dificilmente poderia encaixar melhor e o concerto deixa toda a gente rendida.

O mesmo não se pode dizer da passagem pelo palco dos Afrissippi. Era o nome que mais curiosidade despertava em todo o cartaz mas revelou-se um semi falhanço.

O objectivo era erguer uma ponte imediata entre o Senegal, a Mauritânia e o Mississipi, provar que a tradição fulani que Guelel Kumba transporta para a sua música está a um pequeníssimo passo dos blues que Junior Kimbrough registou na editora Fat Possum.

As semelhanças foram encontradas, é certo, mas os temas demasiado iguais a si mesmos levaram a alguma monotonia complicada de gerir. A banda (que se conheceu em casa do mestre R.L. Burnside) também não ajudou e o concerto mais ligado às raízes do cartaz não foi o sucesso esperado. Talvez nas próximas edições possa ser mais frutuoso explorar o filão maliano.

Gonçalo Frota, www.sol.pt

15 março 2008

Afrissippi no Coimbra em Blues

[Arquivo-TAGV]



AFRISSIPPI
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 14.03.2008. Fotos: José Balsinha.

14 março 2008

Gary Lucas Meets Dead Combo (13 MAR 2008)

[Arquivo-TAGV+Recorte-TAGV]

Boa surpresa

Óptima noite de abertura da sexta edição do Coimbra em Blues. Gary Lucas e Dead Combo trilharam os caminhos de Captain Beefheart, Jeff Buckley e Dario Argento.

Ninguém sabia muito bem o que ia sair dali. Juntar num mesmo palco o fado spaghetti com cartola da guitarra e do contrabaixo dos Dead Combo – música esconsa e feita de sombras, de melancolias que tão depressa remetem para becos de candeeiros partidos com gatos à espreita como para grande planícies sob um sol tórrido –, com a simples esquizofrenia estilística (toca blues, rock, música chinesa, tudo) de Gary Lucas era arriscado.

Mas foi uma aposta ganha e que iniciou da melhor forma possível a sexta edição do Coimbra em Blues, o festival que renova anualmente a condição de Coimbra como capital desta linguagem tão especificamente norte-americana.

Gary Lucas e Tó Trips (Dead Combo).

Primeiro, o palco coube apenas aos Dead Combo, que se lançaram muito bem na sua pesquisa sonora a meio caminho entre Paris, Texas e Aconteceu no Oeste. O ambiente começava a aquecer e a tomar conta lentamente dos ocupantes das cadeiras do Teatro Académico de Gil Vicente.

Mas quando Gary Lucas finalmente se lhes juntou, temeu-se pelo pior – no primeiro tema, a descoordenação entre a guitarra de Lucas e a de Tó Trips foi aflitiva. Depois, enfim, as agulhas acertaram-se, as peças foram-se encaixando e começou realmente o festival.

Se Lucas é sobretudo conhecido e apresentado como um tipo que tocou com Captain Beefheart – e, portanto, com uma natural queda para a insanidade musical – conquistou verdadeiramente a plateia ao interpretar, instrumentalmente, com o duo português dois temas que ‘ofereceu’ a Jeff Buckley: ‘Mojo Pin’ e ‘Grace’ (Buckley integrou a sua banda Gods and Monsters e as colaborações entre os dois foram posteriormente editadas em «Songs to No One»).

Dead Combo e Gary Lucas.
Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.
TAGV 13.03.2008. Foto: José Balsinha.


Aí, percebeu-se, em definitivo, que a sua loucura criativa tem um lado funcional, que lhe permite ir além do virtuosismo e colocar-se ao serviço da causa das canções.

Mas os grandes momentos da noite foram outros: Lucas a solo numa desenfreada leitura de um tema de Captain Beefheart, elevando os blues a um notável cenário de pequenas alfinetadas na tradição, dando largas a toda uma técnica enciclopédica de fazer cair o queixo; e a partilha com os Dead Combo do tema principal desse clássico do giallo (cinema de terror italiano da década de 70) de nome «Suspiria», realizado por Dario Argento. Aplausos merecidos.

Gonçalo Frota, www.sol.pt

13 março 2008

Mais uma (esta já é a sexta) história dos blues

[Recorte-TAGV]

Cartaz Coimbra em Blues: VI Festival Internacional de Blues de Coimbra, TAGV, 13, 14 e 15 de Marco de 2008. Desenho Gráfico: Joana Monteiro.

Festival abre com estreia mundial: Gary Lucas featuring Dead Combo.

É o projecto mais especial da história desse projecto especial que é o Coimbra em Blues - Festival Internacional de Blues de Coimbra: logo à noite, no Teatro Académico de Gil Vicente, o guitar hero norte-americano Gary Lucas e as "guitarras desajeitadas" dos portugueses Dead Combo trocam umas ideias sobre esse assunto mais vivo do que morto que são os blues. O encontro imediato entre Gary Lucas e os Dead Combo, que abre às 21h30 o Coimbra em Blues, é a primeira encomenda do festival mas não vai ser a última: "Este princípio dos encontros imediatos é um caminho que vamos tentar manter. É muito importante para nós apresentarmos um espectáculo que em bom rigor não existiria sem o festival e cruzarmos músicos que noutras circunstâncias nunca se cruzariam", diz o director artístico, Paulo Furtado, ao P2. É ele que faz a visita guiada ao festival.

Por aqui, por favor: a primeira coisa que encontramos quando entramos na sexta edição do Coimbra em Blues é a estreia mundial do espectáculo que Gary Lucas ("Para mim um dos maiores guitarristas dos últimos 40 anos", diz Paulo Furtado - e, a julgar pelos statements da Rolling Stone e do Melody Maker, não é só para ele) e os Dead Combo montaram, primeiro à distância, via email, e depois durante uma residência artística em Coimbra. Amanhã há mais encontros imediatos (e o Coimbra em Blues também tem alguma coisa a ver com isso): Billy Jenkins e Steve Morison, dois londrinos que se conheceram há quatro anos em Coimbra, na primeira edição do festival, regressam ao local do crime para mostrar o que andaram a fazer juntos desde então (um projecto chamado Here is the Blues).

A seguir, o festival volta a contar mais uma história dos blues com os Afrissipi, "um projecto muito curioso porque não existe nada neste momento que mostre de modo tão claro como os blues foram de África até ao Mississípi). Efeito secundário de uma jam session em casa de R. L. Burnside, os Afrissipi cruzam "o espírito festivo da música africana com os blues agressivos e quase punk que se praticam agora no Mississípi", continua Furtado.No último dia, sábado, o festival faz um desvio ao itinerário principal dos blues - faz parte do programa apontar "noutras direcções e ilustrar a influência decisiva dos blues em todo o espectro da música popular", em vez de fazer dele uma coisa de museu - para trazer a portuguesa Ruby Ann de volta a Coimbra, onde nasceu. Super Chikan (James Louis Johnson), o bluesman que fecha o festival, também é um regresso: de volta às bases do blues.

Inês Nadais, Público, 13 Mar 2008, Caderno P2, p. 10.

Videomemória TAGV

[Arquivo-TAGV]

Indie Folk TAGV, 16 Fevereiro 2008: registo da ESEC TV.


Ola Podrida no Indie Folk TAGV, 16 Fevereiro 2008: registo da ESEC TV.

11 março 2008

We've got the Blues!

[Notícia-TAGV]

Mupi com o cartaz do Coimbra em Blues,
VI Festival Internacional de Blues de Coimbra.

Praça da República (Coimbra). 05.03.2008. Foto: PDS