28 abril 2008

Burlesco de sabor amargo

[Notícia-TAGV]

Josie trabalha há 20 anos numa velha bomba de gasolina, numa pequena aldeia do interior da Irlanda. Apesar da solidão e de todos fazerem dele o bombo da festa é, à sua maneira, feliz. É um optimista e sabe que tem o seu lugar no mundo – pode não ser um lugar extraordinário, mas é o seu. Até que um dia, com a chegada de um jovem aprendiz à estação de serviço, tudo muda.

“Lenny Abrahamson consegue tocar fundo, jogando com subtilezas delicadas. (…) Neste retrato de uma veracidade dilaceradora, saímos abananados e estupefactos”.
Aurélien Allin, MCinéma.com

22 abril 2008

WOK - Ritmo Avassalador (19 ABR 2008)

[Arquivo-TAGV]



WOK - Ritmo Avassalador. TAGV 19 de Abril de 2008.
Fotos de Celestino Gomes.






WOK - Ritmo Avassalador. TAGV 19 de Abril de 2008.
Fotos de José Balsinha.

Videomemória TAGV (II)

[Arquivo-TAGV]

Ruby Ann. Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de Blues de Coimbra,
15 de Março de 2008. Registo da ESEC TV.

Videomemória TAGV (I)

[Arquivo- TAGV]



Gary Lucas vs Dead Combo. Coimbra em Blues, VI Festival Internacional de
Blues de Coimbra, 13 de Março de 2008. Registo da ESEC TV.

21 abril 2008

Visita ao Teatro Municipal da Guarda (19 Abr 2008)

[Arquivo-TAGV]


Visita guiada ao Teatro Municipal da Guarda,
pelo arquitecto Carlos Veloso e por Victor Afonso [TMG],
no âmbito de TEATRO E ARQUITECTURA, ciclo de exposições, conferências e visitas à obra: Parte II – O Teatro Municipal da Guarda. Fotos de Nuno Gonçalves [19.04.2008].

17 abril 2008

Desordem no reino do Gatuskão (17 ABR 2008)

[Arquivo-TAGV]





António Mortágua e João Castro Gomes em
Desordem no Reino do Gatuskão, uma encenação de Pedro Malacas,
com texto de José Geraldo e José Brás, numa produção da
Camaleão-Associação Cultural. TAGV, 17.04.2008.
© José Balsinha

15 abril 2008

Uma fábula futurista onde os tambores são a arma de novos clãs que emergem das ruínas

[Recorte-TAGV+Notícia-TAGV]

WOK - Ritmo Avassalador no TAGV.
SÁBADO, 19 DE MAIO, 17H00 e 21H30.

Ano 2223, margem sul do Tejo. À primeira vista, é como se Blade Runner tivesse assentado praça na velha Lisboa, com a ponte em ruínas e uma vegetação selvagem a tomar conta do que resta de edifícios e embarcações. Os sobreviventes são guerreiros, divididos por ódios e medos. Têm nomes como Alkas, Cat, Mae, Dahlia, Fuchsia, Holok, Protero, Shatur, Yur, Zenda, Zoika. E histórias como a de Shatur, que é mudo e é duas pessoas numa só: Sha, que nascera só tronco; e Thur, seu irmão, nascido só pernas. Alguém coseu cirurgicamente as duas partes, fazendo dos dois um só corpo, embora no interior continuem divididos. "Sou dois em um", explica ele, por gestos.

Wok, nome do grupo e também do espectáculo, nasceu do cruzamento dos tambores e das suas sonoridades com uma estética mutante de "forte componente cénica, teatral e também humorística." Deu os primeiros passos com um grupo de jovens em 1999, em Almada, depois de sair do berço. Ou seja, da sede do Tocá Rufar e do Centro de Artes e Ideias Sonoras (CAIS), fundado três anos antes, no Seixal, margem sul do Tejo. Rui Júnior, músico, mentor destes projectos e criador do Wok, é também o autor deste novo espectáculo com um elenco renovado e cada vez mais rodado nos palcos, onde, explicou ele em conferência de imprensa na sede do Teatro D. Maria II, "há uma visão da margem sul sobre Lisboa num cenário pós-apocalíptico. Mas não é pessimista."

Pelo contrário. A combinação de tambores, percussões e danças guerreiras hostis abre caminho à formação amistosa de novos clãs. É uma fábula de renascimento humano em forma de drummer tale: "A solidão, o medo e a angústia dão lugar à aceitação e à tolerância. A raiva, a discórdia e agressão cedem perante a confiança e a solidariedade. O vazio, o desespero e a dilaceração renunciam e nasce o grupo, o clã, a pertença."
Bombos, timbalões e caixas de rufo são as principais "armas" de guerra e de paz do Wok, envolvidas neste espectáculo numa estética mais assumidamente futurista. (...)
Nuno Pacheco, PÚBLICO, 11.04.2008.

14 abril 2008

GEFAC e Amigos (12 ABR 08)

[Arquivo-TAGV]




GEFAC e Amigos.
TAGV 12.04.2008. Fotos de Celestino Gomes.

11 abril 2008

A Voragem do Tempo

[Notícia-TAGV]

O VOO DO BALÃO VERMELHO, de Hou Hsiao-Hsien
[FRA/Taiwan, 2007,139’, M/12]
Cinema no TAGV, 14 de Abril de 2008, 21h30m

Um balão vermelho segue afeiçoadamente Simon, de sete anos, por Paris. Suzanne, a sua mãe, é uma marionetista que utiliza os seus talentos vocais para trazer à vida os espectáculos que escreve. Totalmente absorvida pelo seu novo espectáculo, esta mãe solteira é ultrapassada pelas complicações da vida moderna. Decide então contratar Song Fang, uma jovem estudante de cinema da Formosa, para a ajudar a cuidar de Simon.

“Uma passeata de um cinéfilo acompanhada por um toque simples e comovente. Um trabalho original e pessoal, em que Hou Hsiao-Hsien de Paris uma imagem irreconhecível mas credível (…). Juliette Binoche é surpreendente (…)”.
Julien Welter, ARTE

10 abril 2008

Uma proposta musical inovadora

[Recorte-TAGV]

Sond'Ar-te Electric Ensemble. © Paula Azguime/Miso Music

De Miguel Azguime conhece-se a arte e a capacidade de fazer acontecer coisas novas no mundo da música. Hoje, com o Sond'Ar-te Electric Ensemble, o compositor estará no TAGV com uma proposta musical inovadora, entre o acústico e a electrónica.

Em mais uma sessão "A cor do som - Recitais e concertos TAGV", no âmbito da programação "TAGV Digital", o Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, apresenta esta noite, às 21H30, um concerto com a mais recente formação de Miguel Azguime, o Sond'Ar-te Electric Ensemble, fundado pela Miso Music Portugal. A proposta, inovadora pelo menos a nível europeu, como destaca o compositor que há mais de duas décadas revolucionou a música contemporânea portuguesa, concretiza-se num repertório a conjugar instrumentos acústicos com as mais recentes tecnologias electrónicas.
E é exactamente essa "soma" pouco óbvia mas, comprovadamente, eficaz que o público que esta noite estiver na sala da Universidade de Coimbra irá poder testemunhar: entre os instrumentos acústicos que fazem qualquer orquestra clássica ­ flauta, clarinete, violino, piano ­ e os mais recentes meios electrónicos, a união musical deverá sair perfeita, porque se encontram "integrados de forma estruturante", como disse Miguel Azguime.
E como qualquer proposta nova implica repertório, foi necessário ao Sond'Ar-te Electric Ensemble "fomentar esse repertório". O que, ainda de acordo com Miguel Azguime, tem vindo a acontecer através do convite a novos, alguns "novíssimos", compositores portugueses para criarem obras com "estas novas características", num "leque de encomendas" que irá dar-se a conhecer a um público alargado através de um plano de concertos a estender-se até final de 2009.
Naquele que é também um projecto com uma forte vertente pedagógica, sobretudo pela "disponibilidade para a oficina", no "acolhimento de novos compositores que, assim, experimentam novos caminhos na música" ­ marca forte da Miso Music Portugal –, o Sond'Ar-te Electric Ensemble dirige-se a um público alargado, uma vez que os seus concertos se fazem com estéticas "muito abrangentes" e "correntes várias". Mesmo porque, como disse o responsável artístico pelo ensemble, "a nossa função é dar ao público a possibilidade de opção", contrariando de alguma forma "a unicidade" oferecida pelos circuitos habituais e contribuindo para o sentido de "formação" que a arte tem necessariamente.
E, depois, como salientou Miguel Azguime ao DIÁRIO AS BEIRAS, há um público, o mais jovem, a que se chega com alguma facilidade pela via da electrónica e das novas tecnologias aplicadas à música.
Quanto à apresentação desta noite ­ que Miguel Azguime aguarda com grande expectativa, uma vez que reconhece a Coimbra "uma disponibilidade extraordinária" –, o compositor chama a atenção para "Itinerário de Luz", de Enrique X. Macias, uma obra em estreia neste concerto e que é, também, uma homenagem sentida ao seu criador.
De acordo com os seus responsáveis, é característica original do Sond'Ar-te Electric Ensemble a primazia na interpretação de repertório instrumental com integração de meios electrónicos, sendo por isso um projecto inovador, tanto a nível nacional como internacional.
As razões e a necessidade desta singularidade justificam-se pelas recentes tendências da história musical contemporânea. Do mesmo modo que o desenvolvimento da grande orquestra sinfónica, como paradigma, esteve intimamente ligado ao repertório europeu do século XIX, o repertório da segunda metade do século XX suscitou o aparecimento de um paradigma contemporâneo mais restrito e não menos caracterizante: o ensemble.
Com Pedro Amaral como maestro titular e Miguel Azguime como director artístico, o concerto desta noite far-se-à com Monika Duarte Streitová (flauta), Nuno Pinto (clarinete), Suzanna Lidegran (violino), Daniela Brito (violoncelo) e Ana Telles (piano). Como músicos convidados, o Sond'Ar-te Electric Ensemble contará com Jorge Alves (viola) e Laurent Rossi (trompa). Paula Azguime e Miguel Azguime farão a assistência informático-musical.
Do programa fazem parte as composições "To a world free from beliefs", de Pedro M. Rocha; "Itinerário de Luz", de Enrique X. Macias ­ numa homenagem ao compositor galego com uma forte ligação a Portugal, que completaria 50 anos em Maio próximo; "Timshel", de João Pedro Oliveira; e "Derrière Son Double", de Miguel Azguime.
O preçário é o seguinte: normal ­ 10 euros, estudante e sénior ­ oito euros, escolas ­ três euros, família ­ 15 euros, amigo/a TAGV e estudantes dos conservatórios ­ cinco euros.

Lídia Pereira, As Beiras, 10 de Abril de 2008

Música Pelo Médio Oriente (8 ABR 2008)

[Arquivo-TAGV]

José Mário Branco. Música Pelo Médio Oriente.
TAGV 08.04.2008. Foto: Celestino Gomes


Regina Castro e João Lóio. Música Pelo Médio Oriente.
TAGV 08.04.2008. Foto: Celestino Gomes

Wesam Ayub e Ehab Al-Azzawy. Música Pelo Médio Oriente.
TAGV 08.04.2008. Foto: Celestino Gomes

Marwan Abado. Música Pelo Médio Oriente.
TAGV 08.04.2008. Foto: Celestino Gomes

Camané. Música Pelo Médio Oriente.
TAGV 08.04.2008. Foto: Celestino Gomes

Músicos pelo Médio Oriente. Música Pelo Médio Oriente.
TAGV 08.04.2008. Foto: Celestino Gomes

07 abril 2008

Fantasmas de uma revolução

[Notícia-TAGV]


12:08 A ESTE DE BUCARESTE, de Corneliu Porumboiu
[Roménia, 2006, 89’, M/12]
Cinema no TAGV, 7 de Abril de 2008, 21h30m

Dezasseis anos depois de Ceausescu ter sido forçado a abandonar Bucareste, numa pequena cidade, o dono da estação de televisão local, convida duas pessoas a partilharem os seus momentos de glória revolucionária. Um é um idoso reformado, Pai Natal de vez em quando, o outro um professor de história enterrado em dívidas. Juntos irão recordar o dia em que invadiram a Câmara Municipal gritando "Abaixo Ceausescu!". Mas será que foram realmente heróis? E terá a cidade participado mesmo activamente na revolução?

“Novo exemplo de um novo cinema romeno, irónico e acutilante, e que se coloca na lista da frente do que de mais interessante se pode ver hoje no cinema”.
João Antunes, Jornal de Notícias.

06 abril 2008

Colleen no Senses 2 (03 ABR 08)

[Arquivo-TAGV]

Colleen. Ciclo Senses 2. TAGV 03.04.2008.
Foto: Celestino Gomes

04 abril 2008

José Eduardo Martins [A Cor do Som] (02 ABR 2008)

[Arquivo-TAGV]


Recital de piano de José Eduardo Martins, inserido no ciclo
A Cor do Som
. TAGV 02.04.2008. Fotos: José Balsinha.

03 abril 2008

Entrevista de Manuel Portela ao Jornal Universitário “A Cabra” (03 ABR 2008)

[Recorte-TAGV]

Manuel Portela apresenta as razões que o levaram a abandonar o cargo de director e acusa a Câmara Municipal de Coimbra e o Ministério da Cultura de discriminarem o teatro.
por Ângela Monteiro e Pedro Crisóstomo, www.acabra.net

Manuel Portela © A Cabra/Ana Maria Oliveira

Não consegui que o TAGV merecesse a atenção daqueles que têm o poder de decidir” (Manuel Portela)

Depois da demissão do cargo de director do Teatro Académico de Gil Vicente Manuel Portela falou à A CABRA, via e-mail, para explicar a razões que o levaram a abandonar a direcção do teatro. As dificuldades económicas que o estabelecimento tem vindo a atravessar, o balanço dos dois anos e meio que passou à frente direcção e a nova Fundação Cultural da Universidade de Coimbra (UC) são outros dos temas da entrevista.

Quais as razões que o levaram a demitir-se do cargo?
“Durante dois anos e meio tentei reunir as condições que me pareciam imprescindíveis. Na avaliação das circunstâncias da demissão, não deve portanto ser esquecido que essas condições nunca estiveram inteiramente reunidas. O projecto de reorganização de todas as práticas de trabalho e de estruturação integral da programação do TAGV, que estava a ser aplicado plenamente este ano, pressupunha que todas as condições identificadas estivessem finalmente reunidas em 2007-2008 para que não houvesse qualquer retrocesso aos impasses e dilemas anteriores. Ora isso não aconteceu: continuam a não existir os meios específicos que permitiriam consolidar o projecto que estava em curso. No final da temporada 2005-2006, apresentei ao Senado da UC um relatório intitulado “A meio caminho e a meio gás”, no qual caracterizava a situação do TAGV nessa data e mostrava os objectivos do projecto em curso. Esse relatório incluía um pequeno estudo comparativo (abrangendo cinco instituições congéneres) que mostrava o sub-financiamento do TAGV. Cito o parágrafo final desse relatório: «Os órgãos de governo da Universidade e as Faculdades devem decidir se querem realmente continuar a ter um Teatro. Devem decidir, designadamente: a) se querem ter um Teatro que tente aproximar-se da criação contemporânea e que consiga programar alguns dos melhores intérpretes e criadores nacionais e internacionais nas várias disciplinas, sem descurar a função de apoiar a criação e as práticas artísticas universitárias e locais; b) se querem ter um Teatro com grande capacidade de produção e de co-produção, seja de festivais, ciclos, mostras ou de projectos e encomendas próprias; c) se querem ter um Teatro com capacidade para educar através da arte; d) se querem ter um Teatro cujo edifício e equipamento se mantenham nas melhores condições de utilização; e) se querem ter um Teatro que seja um serviço público.» Embora o projecto que construí ao longo destes dois anos e meio seja uma forma de responder sim àquelas cinco perguntas, as condições orçamentais e de funcionamento não permitiram de facto dar aquela resposta de forma inequívoca. Apesar do esforço adicional da Reitoria da UC em não fazer repercutir os cortes sofridos pela UC no orçamento do TAGV em 2007, a situação de partida era já de sub-financiamento crónico para qualquer projecto de programação digno desse nome. Por outro lado, é preciso não esquecer a ostensiva discriminação negativa do TAGV, feita quer pelos dirigentes da Câmara Municipal de Coimbra, quer pelos dirigentes nacionais do Ministério da Cultura. Qualquer daquelas entidades deveria reconhecer o serviço público prestado pelo TAGV e contribuir para o seu orçamento numa proporção equivalente à proporção do serviço prestado. O apoio da Câmara Municipal de Coimbra em 2006, 2007 e 2008 foi de zero por cento. O apoio do Ministério da Cultura em 2006, 2007 e 2008 foi de zero por cento (se exceptuarmos a co-organização do «Coimbra em Blues» com a Direcção Regional da Cultura do Centro). Ainda que o TAGV não possa concorrer aos apoios consagrados no enquadramento jurídico actual (Decreto-lei n.º 225/2006), teria sido possível um despacho ministerial que, reconhecendo o valor cultural do trabalho realizado, apoiasse a título excepcional o Teatro enquanto a Fundação Cultural da UC não era criada. Foi isso mesmo que solicitei à Ministra anterior pelo menos 4 vezes, mostrando-lhe através do relatório de actividades realizadas o serviço público prestado pelo TAGV no domínio das artes. Quanto à Câmara Municipal de Coimbra, a coisa mais inteligente que se oferece dizer ao seu presidente, frequentador assíduo do TAGV, é que a programação é má. Infelizmente, os dirigentes municipais que temos usam o poder de decidir como se fosse um privilégio pessoal e esquecem-se de que a sua função é imaginar o que é o bem comum e apoiar aqueles que, na comunidade, trabalham com esse objectivo. Apesar de tudo o que fiz para mostrar publicamente o projecto ambicioso que estava em construção, não consegui que o TAGV merecesse a atenção daqueles que têm o poder de decidir. A conclusão que posso tirar destes esforços é a de que a maior parte dos decisores políticos são meros burocratas: o conteúdo artístico e a importância social dos projectos não lhes interessa verdadeiramente. Escolhê-los para nos dirigirem é desperdiçar o direito de votar.”

PARTE II

O ex-director do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) faz o “balanço possível” do seu mandato e reconhece que o problema do teatro está “na contradição entre uma definição restrita e uma definição lata da sua função universitária”.
por Ângela Monteiro e Pedro Crisóstomo, www.acabra.net

"O projecto que concebi tinha um potencial grande de desenvolvimento” (Manuel Portela)

Que balanço faz do mandato?
“Que balanço posso fazer? Tentei, e falhei. Não vejo outro balanço possível. Quem tenta corre sempre esse risco. O projecto que concebi tinha um potencial grande de desenvolvimento e, com as condições essenciais, demoraria pelo menos mais duas temporadas a consolidar-se de forma irreversível. Sem essas condições, era impossível progredir para o patamar seguinte. É preciso que se perceba que se tratava de um modo de gestão artística original em que o modo de organização do trabalho da instituição era pensado de forma integrada com a própria programação. Essa foi uma das formas particulares que o projecto tomou: a ligação entre gestão artística e gestão do trabalho. O TAGV não é apenas a programação: é também o modo de produção que permite concretizar a programação. A outra originalidade estava na valorização da produção própria, isto é, da capacidade de conceber e organizar projectos exclusivos e originais, em todas as disciplinas.”

É o quarto director a demitir-se do cargo, pensa que é um problema estrutural do TAGV?
“A origem do problema está provavelmente na contradição entre uma definição restrita e uma definição lata da sua função universitária. A sua missão é definida pelo regulamento nestes termos: «O Teatro Académico de Gil Vicente é um estabelecimento da Universidade de Coimbra, que funciona na dependência directa do Reitor e desenvolve as suas actividades no domínio da arte e da cultura, ao serviço da Universidade, da Academia, da cidade de Coimbra e da sua Região. Incumbe ao TAGV: a) promover a realização de espectáculos e outras manifestações de índole cultural e artística; b) proporcionar à Associação Académica de Coimbra, às suas Secções e aos Organismos Autónomos um espaço adequado à apresentação pública das suas actividades artísticas e culturais.» Se a concretização da missão definida na alínea b) não é problemática, o mesmo já não se pode dizer da missão contida na alínea a), que, conjugada com a ideia de serviço à cidade e à região, remete para uma definição lata da sua função universitária. Ora esta função, para ser bem realizada, implica não só o conhecimento técnico e artístico das artes cénicas contemporâneas, mas uma capacidade financeira que esteja de acordo com a realidade da economia de produção de espectáculos actual. Exemplifico: a relação receita/despesa em espectáculos de dança contemporânea, por exemplo, é geralmente de 1 para 5; em recitais a solo de música erudita é de 1 para 4; em espectáculos de teatro é de 1 para 4 ou de 1 para 3. Isto significa que é necessária uma verba exclusivamente para programação, bastante acima das receitas geradas, para sustentar uma programação contínua estruturada. Voltando à pergunta: parte do problema está, de facto, na contradição entre a estrutura de financiamento e a definição lata da sua missão universitária. Esta definição lata informava também a racionalidade do projecto que eu estava a tentar consolidar, e que concebia o TAGV como instrumento de uma política universitária de ensino, investigação e experimentação artística. O que implicava incorporar na sua conceptualização quer o contexto actual de grande incremento da produção artística em todas as disciplinas, quer o contexto de reformas curriculares e científicas que visam valorizar o ensino e a investigação das artes na UC.”

Os seus antecessores ao demitirem-se invocaram condicionantes financeiras. Conhecia esta situação quando assumiu o cargo?
“Sim. Mesmo sabendo que a situação não era a ideal, construí, com todos os trabalhadores do TAGV, um projecto que julguei suficiente para justificar a alteração nas nossas condições de produção. Por outras palavras: tentei mostrar publicamente que aquilo que estávamos a fazer merecia as condições identificadas como necessárias. A regra para promover a excelência é muito simples: «quem faz melhor, merece mais». Mas não foi aplicada no caso em apreço.”

01 abril 2008

Abril 2008

[Arquivo-TAGV]

Agenda mensal TAGV, nova série. Design de Joana Monteiro.

Se Janeiro, Fevereiro e Março constituíram meses de convergência entre o que se projectou e o que se concretizou, Abril reflecte de novo a dificuldade, recorrente na programação do TAGV, de realizar a intencionalidade que, num determinado momento, prefigurava uma determinada lógica para as escolhas. Contingências orçamentais impedem-nos, por exemplo, de celebrar o Dia Mundial da Dança, como estava previsto. Isto significa que as condições materiais de produção do TAGV continuam aquém daquilo que a concepção actual da programação pressupõe. Este desfasamento entre o potencial contido no projecto delineado para esta temporada e as condições de exequibilidade compromete o esforço para aumentar a relevância artística do TAGV no contexto das artes cénicas contemporâneas. Nada demonstra melhor esse desejo de relevância do que a presença do recém-formado Sond`Ar-te Electric Ensemble, dirigido por Pedro Amaral, ou a exposição dedicada ao Teatro Municipal da Guarda, no âmbito do ciclo «Teatro e Arquitectura». Destaquem-se igualmente o recital de José Eduardo Martins, o quarto concerto do ciclo «Senses 2», com Colleen, os quatro filmes do ciclo «Segundas TAGV» – «A Este de Bucareste», de Corneliu Porumboiu, «O Vôo do Balão Vermelho» e «Três Tempos», ambos de Hou Hsiao-Hsien, e «Garage», de Leonard Abrahamson –, e os dois filmes do ciclo «Doc TAGV/FEUC» – «El Ejido, a Lei do Lucro», de Jawad Rhalib, e «A Outra Europa», de Poul-Erik Heilbuth, que analisam os efeitos da voracidade globalizada do capital na exploração do trabalho na Europa. Refiram-se ainda os ciclos «Os Livros Ardem Mal» e «Arte e Educação», o espectáculo anual do GEFAC, a presença da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, uma exposição dedicada a Adriano Correia de Oliveira e uma nova estreia-TAGV: «A Desordem no reino do Gatuskão», pela Camaleão.
MP [03-Março-2008]